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31 de dezembro
Morreu o jornalista e escritor Daniel Piza aos 41 anos de idade. Piza estava com a família na cidade de Gonçalves-MG, onde passava as festas de fim de ano. Foi vitimado por um AVC e partiu desta para a melhor.
A morte prematura justamente ocorrida às vésperas da passagem de ano é intrigante. Por que um jovem que tinha a vida pela frente, que gozava férias no interior, por que morreu ele? Por que tinha que morrer, deixando atrás de si mulher e três filhos, justamente agora?
Não importa que nos expliquem que o programa que controla a duração da vida está inscrito no DNA. Nem mesmo importa que existam explicações para as mortes precoces que enlutam famílias de modo tão repentino. O que vale é o fato da morte em si, da perda para a família, as saudades inevitáveis pelo vazio provocado por aquele que nos deixa.
Daqui a pouco entraremos em 2012. Um novo ano se iniciará com as surpresas do cotidiano, os altos e baixos que sucedem no decorrer dos nossos dias. Agora, faltando cerca de quatro horas para a passagem de ano, eu me pergunto sobre essa vida que nos prepara tantas surpresas. Quantas pessoas terão saído deste mundo nas últimas horas e não verão o ano que está para começar! A morte de Piza, a quem vi certa vez de relance, acontece justamente nessas horas em que deveria ser proibido morrer.
O fato é que não existe regra definitiva para nada nesse mundo. Dias trás perdi um cunhado, pessoa muito querida que lutou até o fim, mas não verá o amanhecer d o primeiro dia de 2012. É a sensação de estar à mercê de acontecimentos fortuitos, o maior deles a morte, que nos induz a esse apego à vida. É preciso viver, bem viver, passar magnificamente a meia-noite que nos conduzirá ao ano de 2012, porque o futuro é incerto, a duração da existência incerta.
Que vivamos muito e bem, amigos e solidários, porque a vida vale de verdade pelos bons momentos, esses sim aparentemente eternos.
Feliz ano novo
31 de dezembro é um dia de duas faces. Há a que olha para trás e observa o ano que termina; a outra é a que mira o futuro, sondando o ano que começa.
Neste dia ficamos entre esses dois olhares. O que observa o passado busca recompor tudo o que fizemos e extrair uma média do que fomos, ou conseguimos ser, durante o ano que termina. Aí estão os nossos acertos e erros, o modo como vimos as pessoas, o mundo que nos cerca e a vida em geral. Procuramos, a todo custo, um afastamento de nós mesmos, como se fosse possível ver-nos de longe, assim como quem observa um ator em seu papel. É, portanto, ao personagem que representamos durante o ano que observamos, procurando dar lógica aos seus atos, quem sabe justificar-nos diante desse terrível tribunal que é a nossa consciência.
O olhar que mira o futuro é aquele que passa a nos mover a partir de agora. Olhar estranho esse, que tantas vezes tenta negar o que fomos ou fizemos com a promessa de um novo modo de ser no ano que começa. Trata-se de um olhar indulgente, mas forte porque tem o fogo das realizações prometidas, o impulso de atos que vida afora não completamos, mas agora prometemos terminar.
Ano velho, ano novo, duas faces de nós mesmos, o eu dividido entre passado e futuro, tudo isso vivido numa só noite, a de 31 de dezembro.
Mas, não se preocupem: os fogos da meia-noite hão de vir soterrando lembranças indesejáveis e propondo a felicidade embalada por uma boa taça de champanhe. Então deixaremos de lado o passado e o futuro e ficaremos com o presente dos abraços, dos afetuosos abraços, do amor que temos e nem sempre sabemos dar, mas que naquela hora fluirá, como um jato puro e simples daquilo que verdadeiramente somos.
Feliz ano novo.