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Cristãos ao mar
Perseguições religiosas fazem parte do passado bíblico. Cristãos jogados aos leões em arenas romanas são parte de um passado que fez muitos mártires do cristianismo. Coisas do passado?
As guerras e massacres em alguns países têm motivado a fuga de imigrantes que tentam chegar à Europa em barcos e botes infláveis. O desespero dos fugitivos os coloca em travessias extremante perigosas, muitas delas com fins trágicos. Semana passada uma embarcação levava 550 imigrantes e naufragou no Mediterrâneo, resultando na morte de 400 pessoas. Somaram-se essas mortes às estatísticas que apontam cerca de 22000 mortes desde o ano 2000.
Na última terça-feira um bote inflável partiu da Líbia tendo a bordo 105 pessoas. Durante a viagem um grupo de 15 muçulmanos jogou ao mar 12 cristãos sob a justificativa de professarem a fé cristã. Os demais passageiros só não foram mortos por terem resistido, formando um cordão humano. Os 12 mortos eram originários de Gana e da Nigéria.
Ao chegarem à Itália os 15 muçulmanos, originários do Mali, Senegal e Costa do Marfim, foram presos. Mais uma vez a intolerância religiosa esteve a serviço de uma tragédia.
Com frequência são publicadas fotos e divulgados vídeos sobre imigrantes que fogem de seus países em busca de vida melhor. Arriscam-se a tudo, incluindo suas próprias vidas, por não suportar os horrores das batalhas em seus territórios. A violência e o sofrimento são os motores dessa coragem extremada. Melhor morrer tentando do que sucumbir aos bombardeios, ataques de exércitos ou à própria fome.
Com frequência falamos sobre matanças inaceitáveis que amanhã serão esquecidas. Mortes e mortes parecem apenas servir à consolidação de estatísticas. Então 12 cristãos pagaram com a vida pela sua fé, sendo atirados ao mar. Quem se importa? Mas, há que se imaginar o horror de estar viajando em alto mar dentro de um bote inflável no qual, de repente, um grupo de muçulmanos decide eliminar pessoas que professam um tipo diferente de fé. As coisas são simples assim, mata-se quem é diferente. O terror das pessoas ameaçadas, a visão de seus semelhantes sendo atirados ao mar, o perigo da morte iminente, a organização de um cordão humano de resistência, as vidas salvas por um triz…
Não se trata de ficção, não são cenas de um filme. Trata-se do horror praticado pelo homem contra o homem, algo que escapa à minha compreensão no momento em que, placidamente, tomo o meu café numa manhã de sol e ouço a notícia.