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Eric Hobsbawm
O fim da ditadura no Brasil aconteceu em 1985 e muitas aves discordantes viram a oportunidade de tornar a voar com suas tendências esquerdistas/comunistas agora aparentes. Não eram voos longos, nem desabridos: a força da repressão ainda pairava no ar e os tementes dela não se davam ao luxo de se expor em tempos de uma nova democracia ainda claudicante. O retorno à democracia e livre opinião, consolidado com a eleição indireta de Tancredo Neves, teve na morte do novo presidente da República abalo a custo superado pela posse do vice-presidente José Sarney.
Antes disso, ainda no segundo semestre de 1984, acompanhei um amigo em algumas reuniões de pessoas de esquerda dispostas a discutir os rumos do Brasil. Não sou capaz de me lembrar dos nomes dos que então se reuniam, sendo que entre eles figuravam conhecidos refratários ao regime que ora findava. Para ser franco na época eu, como tantos brasileiros, acomodara-me à ideia de que contra a força não há resistência e duvidava de que a ditadura realmente fosse terminar embora os muito aparentes estertores do regime militar fossem palpáveis.
Daquelas reuniões ficou-me a obra de Eric Hobsbawn a qual comecei a ler após observar que muito do que então se falava vinculava-se ao pensamento do historiador. Foi assim que li “A Era das Revoluções”, “A Era do Capital” e “A Era dos Impérios”. Em relação a esses livros e aos que Hosbsbawm publicou posteriormente pode-se dizer que devo a ele boa parte das convicções que tenho sobre o mundo em que tenho vivido. Creio que essa afirmação possa ser estendida a um grande contingente de estudiosos, mesmo aos que discordam de Hobsbawm dada a linha marxista de seu pensamento. Para Hobsbawm ainda hoje Marx continua a ser a chave para o entendimento do capitalismo.
Eric Hobsbawm, historiador marxista, morreu hoje aso 95 anos de idade e deixa enorme vazio. Seus livros escritos não só para especialistas, mas em linguagem acessível ao público em geral o tornaram conhecido em todo o mundo. Isso não representa que sua obra careça de rigor e tenha sido escrita sem vínculos com a pesquisa. Em “Tempos Interessantes” Hobsbawm escreveu ter sido “um antiespecialista em um mundo de especialistas, um intelectual cujas convicções políticas e obra acadêmica foram dedicadas aos não-intelectuais”.
A obra que Hobsbawm deixa consiste numa grande aula sobre a história contemporânea dado ter sido ele um incansável observador e crítico de tudo aquilo que presenciou durante o período em que viveu.