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Depois da queda
Terminou a novela ou estamos vivendo o penúltimo capítulo? A presidenta foi julgada e condenada. Minutos depois o vice foi empossado. Final rápido para uma longa novela que arrastou - mais para o mal que para o bem - milhões de brasileiros.
A funcionária deposta saiu atirando. Promete a mais terrível oposição ao novo governo. O funcionário que entra parece ser mais comedido. Cobra de seus ministros muito trabalho. Há que se reerguer o país, tarefa gigantesca, quase impossível a médio prazo.
No fim eram muitos homens de terno e gravata cujas ações afetam as nossas vidas. Se cada homem público tivesse o povo em perspectiva no que faz e propõe…. Não é assim, não? Infelizmente. A política embebeda. A ambição sobe à cabeça. É sempre preciso mais e mais. E dá no que dá. Se tirassem os verbos ser e ter da língua será que as coisas não seriam melhores?
Mas, afinal, existem ou não por aí bons homens públicos? Depois de tudo, depois de passar um dia inteiro respondendo do mesmo jeito centenas de perguntas você faria o discurso rancoroso pronunciado pela presidenta após a deposição? Difícil responder. Cada cabeça uma sentença, não é o que garante do dito popular?
No meio da tarde um importante sindicalista me diz que as centrais sindicais estão se preparando para a guerra. Haverá guerra diz o homem, olhando-me fixamente.
Guerra? Mas, se estamos tão cansados. Se quase já não nos aguentamos em pé. Se ouvimos ainda ontem aquela dona da lojinha, chorando porque nesse mundo são só ela e a filha, o negócio vai de mal a pior e não há como se sustentar. E o aposentado que cuida da filha e do neto porque o genro se mandou e não dá notícias… e tantas histórias tão tristes, comoventes, de um povo que sofre e não advinha no horizonte nenhum sinal de esperança.
Pois não é de guerra que precisamos. Ansiamos pela dignidade do funcionário que entra, conduzindo o país para melhorar a situação que descamba. Exércitos que se armam que deponham suas armas em nome dos que dão duro para sobreviver.
Precisa-se de paz - urgente. De honestidade, hombridade e todas as palavras que signifiquem coisas boas. Apenas coisas boas.
A esperança dos brasileiros
Nos dias atuais quando o país padece da desconfiança nos homens públicos e nuvens carregadas turvam a visão do futuro vale lembrar de fatos passados que nos ajudem a traçar o perfil da gente brasílica.
O dia 25 de agosto de 1961 terá sido um dos mais impactantes na história do país. Na tarde de 25 o então presidente da República, Jânio Quadros, surpreendeu o país, enviando ao Congresso Nacional a carta de demissão do alto cargo apara o qual fora eleito. Empossado em janeiro, Jânio não chegou a completar o primeiro ano de seu mandato. Líder inconteste, bom administrador, homem feio e desengonçado, brilhante, verdadeiro artista da palavra, proprietário de estilo único de governar, capaz, Jânio levara ao planalto a esperança de milhões de brasileiros. O país atolado na crescente inflação, endividado, mal saído da construção de Brasília precisava de acertos urgentes. Jânio era o homem. Tivera carreira meteórica ao longo de quinze anos que culminaria na presidência. Prefeito de São Paulo, governador do mesmo Estado, era o homem da vassourinha, aquele que varria a corrupção, visitava inesperadamente órgãos públicos e comandava subordinados por meio dos famosos bilhetinhos. Incrível um tipo como Jânio arrastar atrás de si multidões de correligionários e eleitores. Pobre, fizera campanhas do tipo “tostão contra milhão” e chegara lá. Vencera todas. Era o presidente. E a esperança.
O dia seguinte à renúncia segue inesquecível. Descera sobre o país a incerteza e o clima era de velório. Naquele dia eu, rapazote, estava em casa de um tio que morava na Alameda Nothman, são Paulo. No térreo do prédio havia um bar, na calçada o jornaleiro. Os jornais presos ao arame as manchetes inacreditáveis, todas dizendo: “Jânio renunciou”. Em torno das manchetes pessoas paradas, atônitas.
Dentro do bar silêncio. Nas ruas silêncio, pessoas apressadas como se fugissem de uma notícia muito ruim, desafiadora. Eram os brasileiros presos na instantaneidade da perda de confiança gerada por ato de todo modo inexplicável. De Jânio haviam recebido apenas a explicação de que “forças terríveis” haviam se levantado contra ele, daí não ter mais condições de honrar o compromisso assumido com os brasileiros.
Voltei ao apartamento de meu tio e encontrei um primo aos soluços, sendo consolado pela mãe. O Brasil chorava. Nãos sabíamos, mas a trajetória espinhosa do país mal começava. Viriam o turbulento período de Jango no governo e o golpe militar de 1964. A democracia viria a ser restituía apenas em 1985 com a eleição indireta de Tancredo Neves que não chegou a governar.
Olhando para trás tem-se a impressão de que, afinal, vencemos. Melhor: superamos. Fomos jogados ao sabor das pressões e acasos, mas superamos. Entretanto, agora somos novamente assombrados pelos malditos fantasmas que, assim parece, jamais serão expulsos do país. Desta vez, teremos forças para mais uma vez vencê-los? Vencerá a hoje combalida esperança?