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O poder das intempéries
Para desespero do governo o apagão teima em não sair dos noticiários. O falatório é grande: técnicos apressam versões sobre o incidente e até se contradizem. Como o governo atribuiu o apagão às intempéries tornou-se necessário comprovar a intensidade das chuvas em determinada região e, mais que isso, a incidência de raios na fatídica noite em que milhões de pessoas ficaram sem luz.
O INPE deu-se ao desfrute de produzir informações contraditórias. Primeiro os técnicos informaram sobre poucos raios e talvez uma tempestadezinha tropical na região onde se deu o corte da energia. Quando o governo forçou a mão, defendendo-se, o INPE voltou atrás: talvez a intempérie regional tenha sido mais forte e blá, blá, blá.
Como a ex-ministra das Minas e Energia é pré-candidata à presidência da República e atualmente está à frente da Casa Civil, os governistas trataram de blindá-la. Foi aí que o presidente Lula interferiu dizendo que “Freud afirmou que existem certas coisas que a humanidade jamais controlará: uma delas são as intempéries”.
Depois disso o presidente saiu-se com uma curiosa explicação sobre as intempéries, poluição, etc: tudo acontece porque a Terra é redonda; se é redonda gira; se gira, passamos sempre pelo mesmo lugar; fosse a Terra plana… e por aí foi.
Estranhei que os jornais da manhã e mesmo o noticiário da Internet nas primeiras horas do dia não fizessem referências ao pronunciamento do presidente. Como se diz por aí, ele estava tirando o bracinho da seringa, atribuindo, com direito à teoria e tudo, a culpa pelo apagão a fatores climáticos sobre os quais a humanidade não tem qualquer controle.
Eu? Ora dizer que me senti um idiota é repetitivo. Nessas horas me pergunto para que diabos me fizeram estudar aquelas chatices de geografia que, no fundo, parecem não servir para nada. O mesmo digo em relação a Freud e só não meto a boca naquele professor de psicanálise que me fez ler “Totem e Tabu” e “A Interpretação dos Sonhos” porque ele já morreu e bater em defunto pega mal.
Daí que o melhor é ficar aqui pensando no que aconteceu ao mundo e porque tudo deu no que deu. Digo isso com algum desconsolo e ciente da fragilidade do conhecimento que, vida afora, adquirimos a tão duras penas.
Mas deixa prá lá; Freud explica.