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A despedida da velha senhora
Uma senhora de família próxima está mal. Internada após cirurgia no intestino sofre as consequências da infecção hospitalar. O quadro é gravíssimo. Debalde a antibioticoterapia: não se conseguem respostas ao tratamento. Aos 82 anos de idade anuncia-se a despedida da velha senhora.
Entretanto…. Entretanto, aqueles que a amam não querem perdê-la. A ausência da velha senhora será dolorosa demais. Inquestionável qualquer medida no sentido de abreviar o sofrimento dela. Enquanto existe vida há que se lutar - diz o filho mais velho. Mas, se ela está sofrendo tanto…. Não seria melhor se….
Não existe acordo quando o que está em jogo é o amor. E se pedíssemos aos médicos para apenas deixarem que ela morra em paz, sem sofrimento? - pergunta a irmã mais nova.
Enquanto nada se decide vida e morte vão ajeitando as coisas a seu modo. No leito da CTI o corpo esquálido resiste, talvez por simples hábito. A máquina humana recusa-se a se desligar, o imperativo de continuar respirando está sempre em primeiro lugar. Aos trancos e barrancos o coração impulsiona o sangue para distantes regiões desse corpo que já foi forte. À distância, através do vidro de separação, os olhos do filho mais velho vigiam. Aquela que o trouxe ao mundo, a mulher pela qual daria tudo, está-lhe escapando. Prepara-se para a derradeira viagem. Mas, não existiriam os milagres? Não seria possível que de repente….
Acompanho esse drama de perto. Penso que para a velha senhora o melhor seria simplesmente morrer. Para que seguir sofrendo quando nenhuma esperança mais existe? Mas, não ouso dizer isso a ninguém. No corredor do hospital cumprimento parentes consternados, balbuciando palavras de consolo.
Saio do hospital pensando sobre a morosidade da morte.