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O acidente de Orly
Leio entrevista de Ricardo Trajano, único sobrevivente do acidente de um avião da Varig em Orly, França. O acidente ocorreu em 1973. Trajano relata ter-se sentado bem atrás, no avião. Era seu primeiro vôo e tinha lido que, em acidentes aéreos, a maior sobrevida era dos passageiros que se sentavam atrás.
A sobrevivência de Trajano foi possível por desobedecer às instruções de ficar em seu lugar e esperar. Ao ver a fumaça que vinha de tráz ele levantou-se e foi para a frente. Em pouco o avião foi ocupado pela fumaça negra. Os passageiros morreram sentados, presos aos cintos de segurança. Trajano aspirou a fumaça tóxica e desmaiou. Sobre as costas dele caíram placas quentes, provocando queimaduras. Levado ao hospital, milagrosamente sobreviveu. Hoje faz palestras sobre o acontecido.
No avião que chegava a Orly viajava Filinto Muller, chefe de polícia política durante o governo Vargas, acusado de promover prisões arbitrárias e torturas de prisioneiros. De repercussão internacional a prisão de Olga Benário, militante comunista e mulher de Luís Carlos Prestes. Presa enquanto grávida foi deportada para a Alemanha onde seria executada.
Trajano relata que, no banco à sua frente, sentava-se Agostinho dos Santos, grande e conhecido cantor brasileiro. Proprietário de formidável voz Agostinho era reconhecido como das máximas expressões musicais do país. Quando rapazote eu vi Agostinho em São Paulo. Levado por um irmão a um restaurante eis que ali estava o cantor. Lembro-me de meu irmão, recomendando que eu não olhasse diretamente, avisando-me sob a ilustre presença do notável cantor. De Agostinho existe, entre outros, um vídeo gravado durante a visita do cantor norte-americano Johnny Mathis. Apresentava-se o americano em São Paulo quando interrompeu seu show para chamar Agostinho, que estava na plateia, para vir ao palco cantar com ele.
Ainda hoje me recordo do noticiário do acidente de Orly que comoveu a opinião do país. Revelações de Trajano, único sobrevivente, reavivam memórias sobre perdas de vidas como a de Agostinho dos Santos que muito ainda tinha por fazer no ambiente da música nacional.