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Braços esticados nas ruas
Há dois anos estive na Austrália e vi como motoristas e pedestres e comportam no trânsito. Nas ruas de Sidney prevalece acordo mútuo em relação à sinalização: pedestre que coloca o pé na faixa atravessa sem perigo porque os carros param. Obviamente, nas ruas centrais da cidade onde o trânsito é carregado os sinais são obedecidos por ambas as partes. Mas há civilidade.
Acho loucura o que se passa hoje em dia em relação ao direito de pedestres atravessarem em faixas nas ruas onde não existem semáforos. Em especial pessoas idosas simplesmente esticam os seus braços e avançam, contando com que o gesto sirva para que os carros parem. No percurso entre minha casa e o local de trabalho passo todo dia por duas faixas onde não há semáforos. Dá aflição ver aquelas pessoas simplesmente se projetando para o meio da rua enquanto os veículos ainda estão em movimento.
Não sei se existem estatísticas sobre atropelamentos nas faixas para pedestres. Mais perigo que os carros oferecem as motos cujos condutores dirigem quase sempre com velocidades excessivas. Na cidade onde moro há uma quantidade sempre crescente de motos nas ruas sendo que os muitos condutores delas não parecem ter o treinamento adequado para se comportar bem no trânsito. Não são raros os acidentes envolvendo motos. Ano passado um amigo perdeu a mulher atropelada por uma moto num cruzamento.
Em boa hora a tolerância zero em relação ao álcool foi decretada. Estatísticas mostram a ligação entre o consumo de álcool e acidentes no trânsito. Por outro lado o grande aumento do número de veículos nas ruas das cidades tem tornado verdadeira tortura o deslocamento das pessoas. Melhoras no transporte público são necessárias, mas sabe-se lá quando acontecerão.
Hoje de manhã vi uma senhora idosa esticar o braço e partir num verdadeiro voo cego através da faixa de travessia. Um motoqueiro não parou e desviou-se dela, por pouco escapando de atropelá-la. Cena terrível, aflitiva, absurda.
Fazem-se necessárias campanhas permanentes de educação para o trânsito. O problema é que fala-se muito quando alguma regra é mudada, depois não se ouve falar mais dela. Que tal uma campanha para mais uma vez lembrar a motoristas e pedestres sobre o funcionamento das faixas em ruas sem semáforos?
A reforma da Lei Seca
Tanto se fala sobre a fragilidade da atual Lei Seca que se decidiu reformá-la, aumentando o rigor das penalidades para quem dirigir após ter consumido álcool. Nesse sentido acaba de ser aprovada pelo Senado projeto sobre o assunto. Segundo o projeto motorista que beber qualquer quantidade de álcool poderá ser punido.
Atualmente, considera-se crime dirigir com mais de seis decigramas de álcool por litro de sangue. Valores inferiores a esse são punidos com multa e suspensão da carteira de habilitação. Mas, quanto é preciso beber para atingir os tais seis decigramas? Não muito: uma lata de cerveja ou um copo de vinho.
O que muda com o novo projeto? Agora torna-se crime dirigir com qualquer nível de álcool no sangue. Além disso, dá-se um passo além do teste do bafômetro: a embriaguez passa a poder ser confirmada através de testemunhos, vídeos e imagens. No tocante às penas a serem aplicadas em caso de acidentes nos quais o motorista consumiu álcool a coisa se complica e muito: caso exista lesão corporal gravíssima a pena pode variar entre 6 e 12 anos de reclusão; em casos de morte o motorista bêbado pode ser condenado a até 16 anos de prisão.
O projeto aprovado pelo Senado ainda poderá sofrer mudanças antes de ir para a Câmara. Chama-se a atenção para o fato de que a nova Lei Seca, se aprovada, conferirá punição mais pesada ao infrator embriagado que provoca morte em acidente do que por homicídio simples.
E agora? Certo ou errado? O fato é que com o aumento do número de carros nas ruas e estradas a situação tornou-se perigosa demais. Verifica-se, hoje em dia, excesso de trânsito mesmo em lugares onde antes as coisas fluíam normalmente. Basta que se pegue uma das estradas que ligam São Paulo a outras localidades, qualquer uma delas, a Dutra, a Bandeirantes, a Imigrantes, a Fernão Dias… De fato, é impressionante o volume de trânsito que se verifica nessas rodovias e espantosa a soma do número de acidentes que ocorrem em cada uma delas. Importa também lembrar que o número de acidentes ocorridos nas cidades também é grande, muitos deles, como acontece nas rodovias, com vítimas fatais ou em estado grave.
Se olharmos para o novo projeto, tendo em vista a óptica do que vem acontecendo com o trânsito em geral, pode-se dizer que ele é benvindo. Por outro lado é preciso que juristas e outros especialistas estudem melhor as punições previstas para os casos de embriaguez ao volante. O problema maior não está na redução da embriaguez ou simples consumo de um copo de vinho através do medo de ser punido. Mais que isso, faz-se necessária uma permanente campanha educativa da população, a começar nos bancos escolares. Digamos que em curto prazo a Lei Seca toma o problema em sua parte final porque aplica-se a adultos no volante. O que se recomenda é que a Lei una à parte punitiva outra de natureza educativa.
O Brasil tem crescido e abrem-se oportunidades para todos. As possibilidades de obtenção de crédito trazem até mesmo para camadas sociais mais simples a possibilidade de terem os seus carros para locomoção pessoal e familiar. É preciso que esse benefício venha acompanhado da educação que disciplina o comportamento dos motoristas no trânsito. As autoridades têm um trabalho árduo pela frente, mas não se pode fugir à responsabilidade de encará-lo para que deixemos de receber, diariamente, notícias trágicas relacionadas à embriaguez e acidentes de trânsito.
Perigo de duas rodas
O perigo está nas ruas. Trata-se das motocicletas, quase sempre dirigidas por pessoas apressadas para quem qualquer atraso parece ser questão de vida ou morte. Entende-se: entregadores de pizza, motoboys que prestam os mais variados serviços, pessoas em trânsito para casa ou trabalho, o veículo é rápido, não fica preso no trânsito e não se pode negar que seja muito útil. Reclamamos dos motoqueiros, mas não prescindimos dos seus serviços: um documento que precisa ser enviado com urgência a algum lugar - os motoboys são meio seguro e barato para que a encomenda chegue ao destino.
Tudo isso se entende; o que não dá para aceitar é a indisciplina no trânsito, as situações de risco proporcionadas por motoqueiros, os acidentes tantas vezes fatais provocados por pura inconsequência.
Hoje em dia as cidades estão sitiadas por nações de motoqueiros. Dirão que há mais tempo existem nações de motoristas de automóvel. É verdade. Existe, contudo, uma diferença ligada à maior mobilidade das motos. Na prática o que se vê é a movimentação desordenada das motocicletas surpreendendo, perigosamente, outros veículos e, principalmente, pedestres.
É sempre bom lembrar que em muitas avenidas os sinais de trânsito não ficam fechados com tempo suficiente para a travessia de pessoas mais lentas como idosos. Entretanto, é frequente que observemos motocicletas projetando-se além da faixa de pedestres antes que o sinal verde apareça. A situação se complica quando a motocicleta vem de trás, portanto em movimento, e não chega a parar.
Escrevo sobre esse assunto após receber a notícia da perda de ente querido por uma família cujos membros são de minha afeição. Notícia trágica, dor incomensurável provocada por atropelamento de motocicleta. Desconheço as circunstâncias do acidente e não há que se culpar o motoqueiro antes que a perícia esclareça os detalhes. Mas, baseando-se no que acontece diariamente, não é demais ponderar sobre mais um desses lamentáveis episódios nos quais a imprudência e o desrespeito à vida resultam em tragédias.
As novas e crescentes facilidades de crédito têm trazido para as ruas grande quantidade de novos veículos. Muitos são os fatores a exigir atenção redobrada das autoridades no sentido de regulamentar o trânsito para evitar que acidentes aconteçam. Afinal, de ambos os lados existem seres humanos, bastando lembrar o número de motoqueiros hoje inválidos em consequência de acidentes.
Estamos em plena Semana Nacional do Trânsito. Vi na TV um vídeo que mostra rapazes felizes pouco antes de acidente que tirará as suas vidas. Imagens duras, mas necessárias. De fato, a responsabilidade deve ser de todos para que tragédias, como essa de hoje que tanto me comove, deixem de acontecer.