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A opção pelo nadismo
Assisti a um programa de TV no qual um grupo de mulheres discutia o nadismo. Para quem ainda não se inteirou nadismo é movimento cuja filosofia é reunir pessoas em praças com a intenção de não fazer nada durante certo período de tempo. O movimento foi criado pelo brasileiro Marcelo Bohrer com a finalidade de melhorar a qualidade de vida dos participantes.
No programa de TV as opiniões foram díspares dado que cada participante do grupo arrogou para si a ideia de simplesmente não fazer nada. Uma delas confessou ser incapaz de parar dadas suas constantes atribuições. Outra disse adorar ficar em casa, ligar a TV e assistir a filmes, sem fazer nada. Uma terceira associou o não fazer nada à necessidade de relaxamento sem o que não se pode levar a vida em frente.
Como todo mundo convivi com pessoas de todo tipo ao longo dessa minha já prolongada permanência no planeta. Encontrei gente extremante ativa, dessas que correm o tempo todo como se a elas tenha sido dada a missão de salvar o mundo. Presenciei caras extremamente parados, sossegados a ponto de causarem desespero nos outros. Lentos e rápidos, calmos e nervosos, neuróticos etc. Posso dizer que a vocação para o ócio sempre me pareceu superar os convites às atividades.
O meu problema? Bem. Acontece que a geração de meus pais e as que a eles antecederam viveram num mundo que, exceto em período de guerras, parece ter sido mais lento que o atual. Pessoas chegavam às idades mais avançadas e podiam gozar de relativo sossego. Parecia existir compromisso tácito de que ao se alcançar certo pórtico de envelhecimento adquiria-se direito a dias mais saudáveis com direito a bons momentos de ócio. Hoje não é assim. Na minha idade atual meu pai seguia a vidinha dele, mais ou menos sossegado. Quanto a mim trabalho tanto quanto aos meus 25 anos de idade. Pessoas esperam de mim a mesma prontidão, agilidade mental e competência. Sou um menino de cabelos esbranquiçados, embora cansado.
Além do que, meu caro, existe a maldita rotina. Acordar de manhã, fazer a higiene corporal e tomar o apressado café porque o tempo urge nada tem de prazeroso. Isso sem falar na escravidão aos meios eletrônicos de vez que se tornou impossível viver sem o computador. As notícias nos acompanham o tempo todo e envelhecem quase imediatamente, substituídas por novidades que procedem dos quatro cantos do mundo. Um sujeito é atropelado num país africano e, minutos depois, aí está a foto do acidente inusitado na primeira página de um site da internet. E há que se conferir os e-mails que chegam a todo tempo, a maioria deles spams contra os quais nenhum remédio é eficaz.
Assim, no mundo de hoje a ideia do nadismo é muito benvinda. Que tal mandar essa loucura toda às favas e gastar um tempinho não fazendo nada em companhia de nossos semelhantes? Que tal meditar, ainda que por poucos minutos, deixando- se de lado o convulso mundo que nos cerca?
Eu quero o ócio, meu direito ao ócio. Quero que se inclua na constituição um parágrafo que determine a obrigatoriedade ao ócio. Lei do ócio. Quero que se ponha um freio ao mundo que gira cada vez mais depressa e nos reduz a participantes de uma peça de horrores mal dirigida.
Que cresça e se espalhe o nadismo!