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Água Benta

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Leitor inveterado de histórias de vampiros nunca concordei com as divergência entre escritores, roteiristas e cineastas sobre os poderes e fraquezas desses seres. Os vampiros são muito fortes, capazes de voar, transformam-se em morcegos, só se alimentam de sangue, não suportam a luz do sol, temem espelhos, são repelidos por crucifixos e alho, para serem mortos é preciso que sejam fincadas estacas de madeira em seus corações. Já a água benta os queima, daí fugirem dela.

Nem todos são assim, dependendo do autor. O romance “Drácula” de Bram Stoker inspirou duas filmagens de “Nosferatu”, o vampiro. A primeira delas é um clássico do cinema mudo, dirigido por F. W. Murnau, em 1922. A refilmagem foi realizada, em 1979, pelo diretor Werner Herzog e recebeu o nome de “Nosferatu, o vampiro da noite”. Quem não viu o filme de Herzog e gosta de histórias de vampiros deve assistir. Trata-se de um grande filme. O Conde Drácula, estrelado pelo ator Klauss Kinski, é uma das versões mais atemorizantes de vampiros no cinema.

Na grande galeria de representações de vampiros alguns atores se destacam entre eles os sempre citados Bela Lugosi e Christopher Lee. As histórias têm sempre o mesmo tom, variando os perfis dos vampiros quanto a um ou outro aspecto: há vampiros que não temem crucifixos enquanto outros andam por aí durante o dia, nem todos são obrigados a dormir em caixões e assim por diante.

O importante é notar que as histórias sobre vampiros têm público cativo e continuam na moda. Recentemente foi lançado o filme “Crepúsculo” que agora está sendo exibido em canais da TV paga. Trata-se de uma comunidade de vampiros boa gente, vegetarianos por assim dizer dado que só se alimentam do sangue de animais, nunca de sangue humano. Um deles, um rapaz que escapou da morte pela gripe espanhola em 1918, tornou-se vampiro e apaixona-se por uma colega de escola. O filme tem a vantagem de não apelar para clichês como sustos, cenas escuras etc. Mostra-se o lado “humano” dos vampiros, sua bondade comedida porque limítrofe com a contida natureza predadora e selvagem de cada um deles.

Vampiros em crise existencial, estranhos num mundo em que são minoria, esse é o assunto predominante em “Crepúsculo”, filme baseado em romance de sucesso que no momento está em evidência no setor de best-sellers das livrarias.

Mas, foi a água benta que me levou a falar sobre vampiros. Quando menino eu lia histórias de terror e temia vampiros, daí ter sempre na janela do meu quarto uns dentes de alho e trazer comigo um pouco de água benta roubada à igreja. Eram tempos em que todo mundo punha a mão nos receptáculos de água benta, situados nas entradas das igrejas, sem temer contaminação por vírus e outros microrganismos. Tempos diferentes dos atuais, mormente depois da pandemia causada pelo vírus H1N1 que, entre outras, propiciou bons negócios aos vendedores de álcool gel.

morcegoPois, foi por se preocupar com a contaminação através dos receptáculos onde se armazena a líquido sagrado que um italiano inventou um “dosador eletrônico de água benta”. Com ele os fiéis podem, a partir de agora, manter a tradição sem correr o risco de contrair a gripe suína.

A engenhoca funciona assim: o fiel movimenta a mão sob um sensor e a máquina espirra água benta. Tudo muito limpo e saudável, mas complicado para meninos que queiram encher vidrinhos com a água santa para se protegerem contra o ataque de vampiros.

Creio que o inventor italiano não atentou para essa dificuldade dos meninos. Vou escrever para ele, afinal os meninos italianos não podem ficar à mercê dos vampiros que andam por aí, esperando oportunidades para fazer novas vítimas.