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Gatos
Ativista recomenda que gatos sem dono sejam sacrificados. Ele descreve os gatos como assassinos seriais dado que matam por prazer. Devido a isso os gatos colocam em risco a sobrevivência de várias espécies que podem desaparecer. Como exemplo o ativista cita a situação dos kiwis, aves da Nova Zelândia que não voam e são presas fáceis para os gatos. Mais: gatos só atacam roedores à noite porque durante o dia suas vítimas são aves.
Obviamente as declarações do ativista têm despertado reações desfavoráveis das pessoas que amam gatos. Aliás, quando se fala em preferências há quem prefira cães enquanto outros adoram gatos. Confesso a minha preferência por gatos dado que nunca me dei bem com cachorros. Tive um cachorro, pastor belga, ao qual me afeiçoei porque o trouxe para casa poucos dias após ter nascido. Esse pastor tornou-se guardião da casa e não permitia que estranhos se aproximassem de mim. Entretanto, tinha ele nascido com uma alteração anatômica no sistema digestivo que veio a se agravar com o tempo. Infelizmente de nada valeram os esforços de veterinários de modo que o pastor belga veio a falecer, deixando saudades.
Mas, os animais que vida afora me acompanharam foram os gatos. Tive alguns deles, em geral surgidos em casa por acaso. Gato vem atrás de comida, acaba ficando e se afeiçoa à família. Interessa lembrar que cada gato sua identidade, modo de ser. Se há características gerais a todos o fato é que cada animal tem suas particularidades e talvez por isso nos afeiçoemos tanto a eles.
Dos gatos que tive um deixou muitas saudades. Ele recebeu o nome de “Gatolino” e era um sujeito fora das regras. Como na época morávamos numa casa isolada e cercada por mata, no interior do estado, era frequente que o Gatolino desaparecesse por alguns dias. De um desses sumiços voltou ele trazendo mulher e filhos, todos eles gatos selvagens. O certo é que o meu gato fizera família na mata vizinha e, talvez por necessidade de comida, trouxera-os para casa. O problema era a impossibilidade de convívio com animais muito arredios, algo ferozes. A situação se resolveu depois de algum tempo quando a gata e os gatinhos simplesmente desapareceram.
De madrugada o Gatolino assumia a guarda da propriedade que era cercada por muros altos. Muitas vezes fui acordado por miados fortes dele, avisando que algo diferente estava lá fora. Numa dessas encontrei um animal semelhante aos dingos, animal do mato que fora baleado por algum caçador. Esse dingo me deu bastante trabalho porque o socorri, levando-o várias vezes ao veterinário. No fim das contas o pobre animal veio a morrer em consequência de tétano.
Depois de alguns anos tive que me mudar não só de casa como de cidade. Dizem que gatos percebem quando as coisas não estão bem e somem por uns tempos. O fato é que o Gatolino despareceu, inviabilizando que eu o levasse comigo na mudança. Creio que terão se passado uns dois meses quando recebi um telefonema de pessoa que morava próximo à minha antiga casa dizendo que o meu gato aparecia nas noites e ficava miando do lado de fora. Segundo ele o gato sofria com a ausência da minha família. Diante disso, dias depois retornei à cidade onde morara e esperei junto da casa pelo Gatolino. Ele não apareceu e, depois disso, nunca mais soube dele.
Por essas e outras não posso ser favorável às recomendações do ativista. Não sei se no Brasil existem estudos sobre o efeito da predação de gatos provocando desequilíbrios nas populações de aves. Lembro que de todo modo a interferência humana nos ecossistemas eliminando predadores, resultam no crescimento indesejável da população de presas. Vai-se lá saber o que acontecerá com a população de Kiwis se os gatos da Nova Zelândia começarem a ser sacrificados.