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A sorte existe
Amigos, eu tenho três assuntos a escolher para tecer algumas linhas. Um deles refere-se à concessão passaportes diplomáticos aos dois filhos e ao neto do ex-presidente Lula. Eles receberam os passaportes com a seguinte justificativa: em razão de interesses do país. Foi muito bom para eles porque não terão que entrar em filas e visitarão países estrangeiros com mais facilidade que nós, pobres mortais. Confesso que fiquei feliz com a concessão porque ela nos garante que qualquer um pode ter um passaporte desses, cedido pelo Ministério das Relações Exteriores. Aliás, meu próximo passo será me candidatar a um passaporte diplomático dado que também quero um. Não sou filho, nem neto de ex-presidente, mas sou contribuinte de modo que eu - e outros milhares de brasileiros iguais a mim - tenho direito, justificado pelos tais interesses do país.
Já que toquei no assunto, os passaportes diplomáticos foram concedidos no apagar das luzes do governo Lula pelo então Ministro das Relações Exteriores Celso Amorim. Não vou esconder a minha aversão pelas posições políticas do ministro, mas deixo claro que, dias atrás, me enchi de simpatia por ele. O Amorim é natural de Santos e visitou sua terra natal na condição de filho ilustre, cedendo medalhas e documentos de sua trajetória política ao Arquivo de Memória da cidade. Nem é preciso dizer que muita gente achou que ele investia na posteridade, mas e daí? Amigos, a história é feita de documentos, medalhas e tudo o mais que sobreviva às cinzas dos atores de uma dada época, daí que toda contribuição para a posteridade é muito benvinda. Em todo caso a minha simpatia pelo Amorim logo se desfez com essa história absurda de passaportes a dois carinhas que tudo o que fizeram pelo país foi serem filhos do ex-presidente que, aliás, demora-se a se afastar das mordomias do poder.
O segundo assunto relaciona-se à visita da cantora Amy Winehouse ao país, onde fará alguns shows. De tanto ouvir falar sobre a imprevisibilidade dela – nunca se sabe se cantará ou não – e atos realmente tresloucados resolvi ouvir os discos Frank e Black to Black. Amigos, eu me surpreendi muito com o sucesso que a Amy faz porque, a bem da verdade, ela é retrô, o que faz é aplicar o seu vozeirão a hits dos anos sessenta, acompanhada por acordes envelhecidos, vejam os solos de guitarra. Isso não quer dizer que a Amy seja ruim, não, é ótima cantora, sua fama é justificada. O que fica claro é que ela não acrescenta nada ao que outros já fizeram e isso há cinquenta anos. Imagino que fãs da cantora simplesmente execrem opiniões como essa, mas que fazer se tenho a impressão de já ter ouvido isso antes e com outra cabeça que não a de hoje? O que me leva a pensar que essa moçada não se deu ao trabalho de ouvir coisas antigas e está tomando o velho por novo, sorte da Amy, afinal ela fatura milhões batendo na mesma tecla que a Aretha Franklin e tantas outras. Meus amigos, a Amy é um revival dos anos sessenta e pronto.
O meu terceiro assunto é esse cara que até poucos dias atrás era mendigo e possui uma grande voz, a tal “Golden Voice” como dizem os gringos. Pois esse cara foi filmado, enquanto brincava de locutor, por alguém que colocou o vídeo no You Tube. Aconteceu que da noite para o dia mais de dez milhões de pessoas assistiram ao vídeo e o mendigo foi retirado das ruas, reencontrou a mãe depois de 20 anos e está lá, de cabelinho cortado, recebendo ofertas de emprego em rádios e tudo mais.
Muita gente tende a achar que essa história do agora ex-mendigo pode ser explicada por puro acaso. Amigos permitam-me discordar: o nome disso é sorte. Sou desses caras que acreditam, talvez ingenuamente, que a vida pode simplesmente virar da noite para o dia, abrindo-se o sol para quem tem sorte. Dirão que é bobagem. Respeito opiniões contrárias, mas, amigos, como se explica uma coisa dessas? Eu respondo, assim: o cara estava no lugar certo, na hora certa, foi filmado numa época em que existe o You Tube, milhares de pessoas viram e deu no que deu. Muita coisa junta para simples acaso, daí eu insistir que o nome disso é sorte e ponto final.