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Einstein na Berlinda
Assisti pela TV a um filme deveras irritante. Não vou dizer o nome, nem citar atores para não atrapalhar a fruição de possíveis cinéfilos. O filme brinca com o tempo. Idas e vindas entre passado e presente tornam-se possíveis, contrariando a lógica que conhecemos e à qual estamos habituados. Na trama um assassino volta no tempo e elimina pessoas para acertar o passado dele mesmo. A coisa pega porque o assassino quer limpar a própria barra enquanto criança. A ideia é a de que ao tirar do caminho pessoas que influenciariam o futuro de um menino que mora num orfanato a vida dessa criança seria melhor. Obviamente, o menino e o assassino são uma mesma pessoa. O restante fica por conta dos incautos que se aventurarem a essa história de todo inconvincente.
Por que perdi tempo assistindo ao filme até o fim? A história é de tal modo impossível que desperta a vontade de saber como as coisas se resolverão. Tenho como premissa da minha condição de espectador a recusa em aceitar que se gaste tanto dinheiro numa produção que careça de sentido. Foi a esperança de que no final existisse um ajuste que colocasse as coisas em seus devidos lugares que me fez ir até o fim. Esperança baldada, aliás, mas o melhor é deixar para lá.
Entretanto, mal acabei de ver o filme e eis que leio notícias e comentários sobre uma experiência cujo resultado contraria as teorias de Einstein. Como se sabe Einstein demonstrou a relação entre matéria e energia cuja correspondência entre si é dada pela velocidade da luz. Essa relação é expressa pela fórmula E=mc2 na qual c é a velocidade da luz (cerca de 300 mil Km por segundo). A Teoria da Relatividade proposta por Einstein pressupõe que nenhum objeto, independentemente de seu tamanho, pode se mover com velocidade maior que a da luz. Essa teoria é o pilar que sustenta a física moderna, tendo muitas aplicações. Entre as mais comuns estão os GPS, os DVDs e CDs, as câmeras de vídeo etc. No mais a velocidade da luz é usada para avaliar a extensão do universo e a energia produzida por reatores nucleares.
Bem. Acontece que cientistas que trabalham nos laboratórios Cern, em Genebra, anunciaram ter detectado, num gigantesco acelerador de partículas, o movimento de partículas chamadas neutrinos com velocidade maior que a da luz. Esse fato colide com a Teoria de Einstein. Obviamente, é muito cedo para um diagnóstico conclusivo sobre o assunto, lembrando que essa não é a primeira vez que o físico alemão tem seus trabalhos contestados. Entretanto, no caso de se confirmar que Einstein está errado as coisas mudariam de figura, a começar pelo fato de que viajantes em velocidade maior que a da luz poderiam voltar no tempo. Seria possível, por exemplo, viajar entre dois países durante o período de uma noite e retornar no dia anterior.
Pelo que volto ao meu filme, agora com uma pulga atrás da orelha. A trama a que assisti é totalmente inverossímil num mundo regido pela teoria da relatividade. Não sou capaz de dizer se toda a trama seria factível caso a teoria de Einstein venha a ser negada. De todo modo talvez eu deva algumas desculpas ao diretor do filme que bem pode ser um visionário. Mas, não sei não. O mundo tem rodado direitinho em seu eixo e órbita e as explicações que até agora temos são mais que satisfatórias. Daí que me declaro resistente a qualquer mudança de conceitos porque coisas muito estranhas poderão advir disso. Enfim, trata-se do tipo de conservadorismo que garante o meu sono sem o risco de ser atropelado pelo desconhecido. Do que se conclui que a trama do filme é mesmo absurda e ponto final.