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A sorte dos apostadores
De vez em quando o assunto sorte vem à baila. Há quem não acredite na existência de sorte, preferindo classificar tudo como simples acaso. Circunstâncias inesperadas favorecem a uns e prejudicam outros, só isso, nada mais que isso, nada a ver com sorte.
Tive um parente, já falecido, que terá sido uma das melhores pessoas a quem conheci. Sujeito lhano, solidário, exemplar. Entretanto, ficou conhecido por ser azarado. De fato, com ele aconteciam coisas absurdas e inesperadas. Era do tipo que se um pássaro defecasse sobre uma multidão as fezes cairiam justamente sobre cabeça dele. O pior: ele sabia disso, tinha plena consciência do seu azar e contava sempre com a possibilidade de um resultado desfavorável. Foi assim em concursos públicos de que participou. Num deles a escolha final ficou entre ele e outra pessoa. Não deu outra: ele não foi escolhido.
Escrevo sobre esse assunto porque até agora não entendi bem o mistério que envolveu a sorte dos jogadores que apostaram na Mega-Sena, numa lotérica do Rio Grande do Sul. Eles participaram de um bolão que foi premiado. O prêmio de mais de 53 milhões de reais seria dividido entre os apostadores, cabendo a cada um cerca de 1,3 milhão de reais.
Imagino a alegria desses sortudos ao saberem do resultado da loteria. Dois deles deram uma grande festa para comemorar. Todos foram dormir ricos e felizes. Mas, infelizmente, a alegria durou pouco: a lotérica não repassou o jogo para a Caixa Econômica Federal e o sorteio ficou sem ganhadores.
Essa é a tal história de uma riqueza que durou muito pouco. Vinte e poucas pessoas tiveram que enfrentar a decepção de terem sido ricas temporariamente e sem fazer uso de um só tostão das suas fortunas. Agora se iniciam as démarches com a participação de advogados etc. Mas o dinheiro mesmo…
É de se perguntar como fica a sorte num caso desses. Os apostadores tiveram a sorte de participar de um bolão vencedor, mas não ganharam de verdade. Esse é um tipo incomum de meandro da sorte, uma zona de meio-termo perigosa demais para autoconfiança das pessoas.
Na verdade não sei bem o que achar. Daí que prefiro ficar com uma frase que minha mãe proferia quando se defrontava com situações duvidosas:
- A sorte, como a vida, é muito caprichosa.