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Pichadores e depredadores
Semana passada um casal foi preso no litoral paulista após se divertir pichando numa pedra as letras ABC. Moradores locais e turistas insistiram com eles para que apagassem o malfeito. Responderam mal. Não só se negaram como avisaram que pichariam todo o local. Ao que reagiram os ameaçados, tomando do casal os sprays de tinta e pichando-os com eles. A foto dos dois incautos com seus corpos inteiramente pichados foi publicada e deu o que pensar. Afinal, por que diabos queriam eternizar a passagem deles naquela praia, deixando marcas de pichação?
Há muitos anos estive no interior do México e fui conhecer pirâmides construídas por índios. A cidade indígena em ruínas é dessas coisas que emocionam dado que testemunham a evolução de um povo que foi massacrado durante a invasão espanhola. Na ocasião éramos conduzidos por um guia que nos fez entrar num prédio, não sem antes nos advertir que tomássemos o máximo cuidado com as relíquias que encontraríamos.
Havia no grupo cerca de vinte pessoas e o guia fez questão de parar na entrada para mostrar o desenho de um coração calcado na pedra. Tinha ele o nome de um casal e a inscrição do nome do país de origem deles: Brasil. O guia fez questão de repetir o nome do Brasil ao que os estrangeiros visitantes imediatamente me dirigiram seus olhares de reprovação. Foi assim que paguei o pato por algo que não fiz, justamente por ser brasileiro. Confesso que tive vontade de mandar aquela turma para os raios que os parta, mas me calei. Fiz que não era comigo. Mas mordi a língua de raiva por conta daquelas duas bestas do meu país que se deram ao desfrute de macular um local sagrado para a cultura mexicana.
Ontem um homem foi preso em Recife por arrebentar a estátua do poeta Ascenso Ferreira. Câmeras instaladas no cais da Alfândega filmaram a ação do vândalo. Munido de pedras ele as atirou no rosto e tórax da estátua, quebrando tudo. Ao final o rosto da estátua se tornou uma massa disforme.
O vândalo de Recife vestia uma camisa amarela com o número 10 nas costas. Foi preso minutos depois por policiais que passavam no local. Certamente não ficará preso, como aconteceu com o casal que, na passagem de ano, pichou a estátua de Drummond no Rio. O vândalo de Recife alegará bebedeira, quem sabe algum distúrbio mental. Em nenhum momento reconhecerá a sua covardia por atacar um bem público e desfigurar a imagem de um homem que teve reconhecimento de seu povo dadas as suas qualidades de poeta.
Pichadores e depredadores podem ser englobados num só bloco: o dos predadores. São predadores esses caras que se intrometem nas passeatas para destruírem o que encontram pela frente. São também predadores os saqueadores que invadem casas de comércio e carregam o que podem. Trata-se de um grupo em expansão que a cada dia amealha novos inscritos.
Mas, afinal, qual é mesmo a dos predadores, esses vândalos que andam por aí a espera de oportunidades para colocar em ação suas garras animalescas?