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Sydney, Austrália
Amigo, se você não sabe se vale a pena ou não conhecer a Austrália pode deixar de lado a sua dúvida. Vale e muito, no mínimo para entrar em contato com outra cultura e modo de ser, ainda que bastante diferentes daqueles a que você está habituado. Afinal, não é todo dia que você vai a um bar e corre o risco de receber uma recusa ao tentar tomar mais um chope porque acham que você já bebeu demais e está ficando bêbado. O problema é que se você se embebedar e algo acontecer - vir a ser atropelado, por exemplo – toda a responsabilidade passa a ser das pessoas que venderam as bebidas. Mais: é bem possível que no mesmo bar vossa possa comer gratuitamente alguma coisa para que não beba de estômago vazio.
Há lugares no mundo que não fazem jus ao que deles se diz. Sidney, a maior cidade da Austrália, não pertence a essa categoria. De fato, a cidade reserva inúmeras surpresas aos seus visitantes, muitas delas não contidas nos guias turísticos. Para quem duvida que se embrenhe numa das trilhas próximas à praia de Manly e alcance lugares com vistas realmente espetaculares do Oceano Pacífico e a costa australiana.
Sydney é a Opera House, a Harbour Bridge, o Botanic Gardens, a George Street, o maravilhoso Darling Harbour e muito mais. O importante é conhecer esses lugares com olhos menos de turista abismado e mais com os de quem verifica o que se conseguiu construir num país com apenas duzentos anos de existência. Vista sob esse ângulo a Austrália não deixa de ser um lugar surpreendente e Sydney torna-se referência essencial para quem deseja compreender o país.
Para falar apenas de uma, entre as muitas atrações de Sydney está o Darling Harbour, um grande complexo de entretenimento. Ali, além da grande beleza do lugar, o visitante encontra museus, restaurantes, bares, o Sydney Sea Aquarium e o Wildlife Wordl. O Aquarium é realmente muito bom, oferecendo a oportunidade de ver de perto inúmeras espécies aquáticas. No Wildlife o visitante tem a oportunidade de conhecer de perto espécies características da região como os cangurus e os coalas. Ok, você já viu esses animais em fotografias, mas não deixa de ser emocionante ver um coala ao vivo e a cores, dormindo , agarrado a um galho de árvore.
Em tudo o que se vê persiste um clima de “outro lado do mundo” com características próprias e inconfundíveis. A todo o momento não há como não se comparar a Austrália com a nação de origem do visitante, seja pela extrema ordem e certo exagero de cuidados com o que quer que seja. No caso de brasileiros não há como negar certo impacto diante da diferença observada no modo de ser do povo e o espírito de organização imperante.
Sydney é uma ótima opção turística para quem deseja conhecer algo de novo e diferente. Pode-se estranhar que nada funcione após as onze da noite, que não se possa comer e beber na praia ou que existam mãos para pedestres nas calçadas. Questão de hábitos, nada além disso. Você pode ser uma pessoa muito exigente em matéria de observar coisas novas, mas ainda assim vai gostar de Sydney.
Ah, a cor das águas do Pacífico é de um azul diferente, incrível. Parece que a toda manhã um pintor espalha tintas sobre as águas, antes que o Sol apareça, só para fazer festa aos olhos das pessoas.
Questão de nacionalidade
Imagine um lugar onde as coisas se passem de modo diferente daquele ao qual você está acostumado. Em primeiro lugar destaque-se o silêncio, pessoas falando baixo, cada um na sua e tratando os seus semelhantes com muita cortesia. A isso se acrescente uma ordem natural em tudo: carros parando para que os pedestres atravessem ruas, ruas muito limpas, nada de trombadinhas, nada de ambulantes abordando motoristas no sinal fechado, nada de mendigos implorando esmolas e crianças maltrapilhas correndo por toda parte. E mais: nenhum perigo de ser atingido por uma bala perdida, criminalidade praticamente inexistente, possibilidade de andar livremente pelas ruas carregando valores sem ser assaltado ou morto.
Pensou nisso? Pois é, parece irreal, né? Entretanto, acredite, existem lugares assim e a Austrália é um deles, pelo menos nas grandes cidades. A verdade é que num lugar como esse tudo parece muito estranho para quem está acostumado à loucura que é a vida cotidiana no Brasil. Imagine tomar um ônibus no qual as pessoas só faltam dar flores ao motorista e os bancos são estofados, tão limpos de dar nos nervos, afora a perfeita ordem com que os passageiros sobem e descem no coletivo e o fato de não se ouvir mais que os sussurros das conversas entre as pessoas.
Pois é. Explicações existem entre elas a tradição cultural, a riqueza do país, a densidade populacional, diferenças regionais dentro de um mesmo país, a economia e o desenvolvimento, o nível educacional etc. Entretanto, para dizer a verdade, ao temperamento efusivo dos latinos, toda a ordem de lugares como as principais cidades australianas parecem, para dizer o mínimo, estranhas. Trata-se de um maravilhoso sem emoção, de cores lindas e perfeitas que não chegam a ser arte. Talvez se possa dizer que a Austrália é um mundo com o qual sonhamos, mas com o qual nos estranhamos ao vê-lo tornar-se real.
Dirão que comentários assim só podem partir de terceiros mundistas. Pode ser. Mas que no final das contas de vez em quando fazem falta o nosso odiado batuque e aquele cacho de frutas na cabeçada Carmem Miranda. Amigo pode ser brega, mas aquela droga toda pelo menos de vez em quando faz falta, ainda que seja para que a gente possa abrir a janela e gritar: para com essa porcaria de barulho.
A arte da mentira
Há alguns meses meu filho que estuda na Austrália me ligou informando que sua “girlfriend” estava grávida. Não se preocupe, pai, disse-me ele na ocasião. Está tudo bem, veja pelo lado bom: além de gostar dela vou me casar e com isso terei direito à cidadania australiana.
Sabe como é: uma coisa dessas funciona como um petardo enviado por telefone, ainda mais quando o filho tem apenas 21 anos. Mas que dizer? Está feito, está feito e pronto, não é possível parar o tempo etc. Ele parecia feliz, ia ser pai e eu avô de uma criança australiana, pena que tão jovem, tão cedo, mas nem isso consegui dizer, afinal a vida tem dessas.
Depois que o felicitei - meio sem jeito e dizendo que o negócio é bola pra frente - essas coisas que dizemos quando as palavras falseiam e nos deixam embasbacados, ele começou a rir e disse:
- Pai é mentira. Hoje é primeiro de abril.
Ah, estivesse ele perto e levaria uma paulada na orelha. A partir daí a conversa mudou e me esqueci do fato até ler um artigo publicado pelo “El Pais”, em 15/11, cujo título é “Todos mentimos, o que muda é a dose”. No artigo é citado o livro “The Liar in Your Life” (O mentiroso na sua vida) de Robert Feldman, professor de psicologia na Universidade de Massachusetts, no qual o autor afirma que mentimos entre duas e três vezes em uma primeira conversa de dez minutos com um novo conhecido.
O artigo também afirma que mentimos porque há público. Acrescento que, em alguns casos, a mentira torna-se meio de autopromoção, sendo objetivo do mentiroso elevar-se diante do público que o cerca. Exemplifico: conheci um camarada que se dizia amigo íntimo do poeta Vinicius de Moraes a quem, tenho certeza, ele nunca viu. Por ocasião da morte do poeta o fulano apresentou-se consternado na empresa em que trabalhava. Ato contínuo, simulou um telefonema para a filha de Vinicius que, pelo visto, o atendeu prontamente. A conversa foi longa e em tom de voz suficiente alto para que todos os presentes ouvissem. Acontece que a linha telefônica por ele utilizada tinha uma extensão através da qual se podia ouvir o fulano falando, tendo como resposta o tradicional sinal de ocupado.
Entre os mentirosos muito me atraem os criativos. Numa época em que trabalhávamos numa empresa cujo horário de entrada era impreterivelmente sete da manhã, certo dia um colega de trabalho chegou atrasado e saiu-se com uma história interessante: ele acordou tarde, saiu depressa do sobrado onde morava e esqueceu os documentos. Nervoso, gritou para a mulher, que ainda dormia, para que jogasse os documentos pela janela do andar superior. A desgraça foi que, ao caírem, os documentos ficaram presos na fiação externa da linha telefônica. Imagine-se o desespero do meu colega de trabalho, correndo para arranjar algo longo, uma vara talvez, que permitisse a ele recuperar os seus documentos. Mas, o interessante é que ele acabou conseguindo, só que, desta vez, tornando-se vítima de outro incidente: enquanto recuperava os documentos, deixara aberta a porta do carro por onde entrou o seu enorme cachorro que se acomodou no banco traseiro. Imagine-se a dificuldade para tirar o cachorro do carro e, aí sim, sair às pressas para trabalhar num lugar onde, sabidamente, era obrigatório chegar pontualmente…
Mente-se para ser agradável, por amor, para ser educado, para safar-se de situações indesejáveis, para trair, para incriminar pessoas, pela mania de grandeza ou simplesmente pelo prazer de mentir. Inúmeras causas levam uma pessoa a mentir e para algumas delas a mentira torna-se um hábito. Nesse caso, mente-se indiscriminadamente tornando-se a mentira verdadeira muleta de apoio para os seus usuários.
A teoria da mentira é vasta podendo-se dividi-la em capítulos. Falar sobre ela partindo-se das generalidades para os temas específicos é obra de fôlego que deixamos por conta de especialistas. Vale lembrar, em vôo distante e jamais rasante, que uma mentira gera outras e as que envolvem muitas pessoas são as de maior risco para o impostor.
De todo modo existe algo que muito me impressiona em certas mentiras: acontece quando uma pessoa inventa uma versão sobre um fato que lhe foi desvantajoso e, à custa de repetição, passa a acreditar nele. Vi isso acontecer inúmeras vezes e suponho que essas pessoas, caso fossem submetidas a um detector de mentiras, não se revelariam mentirosas tal a sua convicção sobre a versão inventada. O mais interessante é que coisas assim acontecem também a pessoas que não têm na mentira um hábito: serviram-se dela num momento de pressão e transformaram em verdade absoluta uma versão favorável a si mesmas, ainda que em detrimento da verdade.
Ultimamente tenho pensado na mentira enquanto observo o cotidiano político do país. A minha curiosidade é aguçada toda vez que vem à baila o episódio do mensalão. Esse é um episódio em que uma das facções em oposição está mentindo e é preciso, em prol do interesse público, que se estabeleça a verdade.
O Velho e o Mar
Um tubarão de mais de cinco metros apareceu nos mares da Austrália. O tubarão gigante atacou e matou outro de tamanho menor. O fato ocorreu na costa de Brisbane, capital do Estado australiano de Queensland.
As notícias sobre tubarões tão grandes atacando pessoas não são muito frequentes. Os tubarões são peixes cartilaginosos pertencentes à subclasse dos elasmobrânquios representada por 815 espécies. É relativamente fácil diferenciar, pelo aspecto externo, peixes cartilaginosos de peixes ósseos: nos cartilaginosos a boca situa-se ventralmente, a pele é coberta por escamas duras chamadas placóides, lateralmente ao corpo existem aberturas denominadas fendas branquiais e as nadadeiras dispõem-se nas posições que observamos em fotos de tubarões, destacando-se a nadadeira caudal.
Nas águas costeiras vivem espécies como a tintureira e os tubarões-martelo; em águas profundas encontram-se tubarões grandes como o anequim e o grande tubarão branco.
As notícias sobre ataques de tubarões a seres humanos, curiosamente quase sempre vêm da Austrália. Há em certas regiões daquele país grande preocupação com a saúde dos banhistas principalmente em épocas em que as águas marítimas são frequentadas por cardumes de pequenos peixes que servem de alimento aos tubarões. Por isso, as praias mais populares são protegidas por redes e bóias com anzóis e iscas para evitar os ataques dos predadores. São comuns por lá os tubarões tigre, branco e o tubarão-de-cabeça-chata (também conhecido como touro).
Existem tubarões tímidos, mas muitos deles são muito perigosos. O grande tubarão branco pode atingir 6 m e é muito feroz. Justamente a maior parte dos acidentes com tubarões acontece nas águas tropicais e temperadas da região australiana. Durante a Segunda Guerra Mundial foram registrados vários ataques de tubarões a vítimas de naufrágios.
Falar sobre tubarões leva-nos ao grande livro que é “O velho e o mar”, de Ernest Hemingway. Trata-se de um romance essencialmente de ação em que o confronto entre o homem e a natureza se dá através da luta entre o velho pescador cubano Santiago e os tubarões. Santiago passa por uma maré de azar – há 84 dias não pega nada - e sonha pescar um grande peixe para provar a outros pescadores que não está acabado. Solitário e determinado Santiago acaba conseguindo, mas os tubarões atacam e progressivamente retiram pedaços do peixe. Ao retornar à praia resta apenas a carcaça que, entretanto, serve como prova diante de outros pescadores que o taxavam o velho e azarado.
“O Velho e o mar” (The old man and the sea – título em inglês) é leitura indispensável e altamente recomendada. O livro pode ser encontrado nas livrarias, publicação da Editora Bertrand do Brasil com tradução de Fernando de Castro Ferro.
A trama de “O Velho e o mar” também serviu à realização de um filme com o mesmo nome. A produção é de 1958 e dirigida John Sturges. No papel do pescador Santiago está o grande ator Spencer Tracy, indicado para receber o Oscar de melhor ator pela sua atuação. O filme recebeu um Oscar de melhor trilha sonora. Impressionam as imagens de Santiago enfrentando o mar com um pequeno barco, sua solidão e respeito pela natureza, sua luta em busca do sonho de pescar um peixe grande, o ataque de tubarões e a forma como enfrenta as adversidades.
A versão cinematográfica de “O velho e o mar” está disponível em DVD.