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Suicídios

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Foi na madrugada em um hospital. Eu acabara de receber a notícia da morte de minha filha e faltava-me o chão sob os pés. Ali iniciavam-se os terríveis procedimentos do post-mortem. Minha mulher foi ao Serviço Funerário da prefeitura para tratar dos mecanismos legais. Liguei para a empresa funerária para o traslado do corpo e entrei em contato com o cemitério para a liberação do espaço para o enterro. Coisas duríssimas. Desesperadoras. Às quais se seguiria o terrível momento do reconhecimento do corpo antes que fosse levado do hospital.

Mas, minha filha não se suicidou. Foi levada pelo câncer, doença contra a qual lutamos por quase três anos, sem vencê-la. Entretanto, naquele momento, logo após saber sobre minha filha morta, eis que me vi na recepção do hospital a esperar a chegada do pessoal da funerária. Seriam umas quatro da manhã. Ali, sentados a um sofá, estava um casal. O senhor, percebendo a minha aflição, acercou-se de mim, perguntando-me o que acontecera. Disse a ele que acabara de perder a minha filha. Para consolar-me ele relatou que dois meses antes também perdera uma filha. Foram, ele e a mulher, surpreendidos ao encontrar a moça morta em seu quarto de dormir. O fato fora surpreendente. Nada nos dias anteriores revelara qualquer intenção da moça despedir-se da vida. Ela não deixara nenhum bilhete, nenhuma explicação. Caso estivesse depressiva nos últimos tempos, escondera isso muito bem. De modo que os dois ali estavam, ainda combalidos, à espera de um filho que no momento passava por cirurgia.

De certo modo o caso da moça que se suicidara devolveu-me um pouco e equilíbrio. Aquilo funcionara com compartilhamento de um dor insuportável. Dor essa que, passados quatro anos desde aquela noite, ainda me incomoda bastante.

Se bem me lembro a primeira vez que ouvi falar em suicídio foi na minha infância. Um parente metera um tiro na cabeça por conta de ter perdido a mulher para outro homem. Apaixonado, não suportara a dor da perda. E se matara.

De lá para cá o número de suicídios tem aumentado. Há quem diga que, na verdade, hoje em dia o número de comunicados de suicídios aumentou, engrossando as estatísticas. Mas, o que se têm é a divulgação de cerca de 4,3 suicídios por dia no Brasil. Razões não faltam, entre elas a depressão. Há um aumento crescente do número de casos. Mais homens se suicidam, mas casos entre mulheres têm aumentado.

Por fim à própria vida é algo que foge à lógica de nossa preservação. Situações limítrofes levam pessoas ao ato extremo. Existem suicídios talvez explicáveis, ainda assim difíceis de aceitar. O caso do grande ator Robin Willians deu o que pensar. Doente e já sem perspectivas de cura ele enforcou-se em sua casa. Mas, ainda assim, fato que nos impressiona.

Há quem diga que o suicídio exige coragem. Outros o consideram ato de extrema covardia. O crescimento do número de casos em que pessoas tiram a própria vida é preocupante. São muitas os fatores que conduzem ao suicídio em geral ligados a quadros de depressão. Tentativas de suicídio envolvem o uso de medicamentos e venenos. Suicídios consumados resultam do uso de aramas de fogo, enforcamentos, etc.

A atenção a sinais que podem sugerir a tendência ao suicídio é importante. Diante do risco de alguém se suicidar devem ser empregados meios hospitalares e mesmo policiais diante de emergências.

Em cinco estados norte-americanos o auxílio médico à morte é permitido. Trata-se da assistência médica a pessoas que desejam por fim a suas vidas, em geral por portarem doenças incuráveis, evitando-se mais sofrimento.

Em boa hora os Ministérios da Saúde e da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos estão lançando, hoje, campanha de valorização da vida e combate à depressão com foco no público jovem.