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Ficção e realidade
A ficção é rica em situações que bons escritores descrevem com minúcias. Um bom escritor é capaz de nos fazer viver com intensidade todos os momentos de um acidente aéreo. Obviamente existem muitas maneiras de descrever uma situação como essa. Uma delas é partir de personagens que ainda estão no aeroporto, esperando pelo momento de embarque. Depois a rotina dentro do avião até o momento em que as coisas se complicam. Flashbacks de algumas pessoas mostrando detalhes da vida delas ajudam a criar o clima de horror quando o acidente finalmente acontece. A morte colhe pessoas em trânsito sem avisá-las, interrompendo vidas precocemente. O desespero de familiares em busca de notícias, a incerteza sobre a possibilidade existirem sobreviventes, tudo isso concorre para dar à ficção um cunho de veracidade que a aproxima da realidade.
Há filmes assim nos quais as imagens nos permitem participar quase que ativamente da trama. Entretanto, nenhum romance, nenhum filme jamais logrará aproximar-se do impacto causado por um acidente real, que se sabe irreversível, provocando mortes e perdas irreparáveis. Por mais que seja apregoada a segurança do transporte aéreo acidentes envolvendo aviões nos impressionam muito. Não há como se medir a extensão de uma na tragédia na qual centenas de pessoas perdem suas vidas, deixando atrás de si um vazio que seus familiares jamais conseguirão preencher.
O recente caso do avião da Malasya Airlines derrubado por um míssil que o atingiu no espaço aéreo situado na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia pertence à categoria dos acidentes inaceitáveis. Tal o horror das imagens que temos visto tiradas no lugar onde a aeronave caiu e a chuva de corpos relatada por pessoas que presenciaram o momento do acidente que se torna impossível evitar o mal-estar provocado pela triste ocorrência. Uma senhora relata, por exemplo, a queda do corpo de uma mulher nua que rompeu o telhado caindo dentro de sua casa. Fotos mostram corpos ou pedaços deles que se espalharam numa área de 15 km em torno do local do acidente.
A notícia de que essa tragédia de enormes proporções aconteceu porque o avião foi abatido pelo lançamento de um míssil é intolerável. Civis a bordo de uma aeronave perderam suas vidas porque rebeldes ucranianos decidiram abater o avião no qual viajavam, lançando contra ele um míssil. As pessoas que morreram não estava em guerra, nem participando de qualquer conflito. Cerca de quase 100 dos 300 mortos iam a Auckland para participar de um congresso sobre a AIDS.
Ontem foram divulgadas fotografias de algumas pessoas que morreram no acidente aéreo. Olhar para faces de pessoas que já não existem causa forte impressão. Não se pode evitar o estranhamento em relação a seres humanos que fogem à responsabilidade pela tragédia e aqueles que a executaram.
Agora estão em curso as trocas de acusações. Infelizmente, não se deve confiar que alguém venha a ser punido por tamanha catástrofe. Aliás, mesmo que existam punições elas nem de longe serão proporcionais ao crime cometido.