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A pior coisa do mundo
São frequentes notícias sobre roubo de espécies nativas do Brasil, algumas delas ameaçadas de extinção. O que está em jogo é a biodiversidade do país e o uso de substâncias que acabam sendo patenteadas no exterior.
A pirataria parece não ter limites. Semana passada li que as caranguejeiras nacionais valem 80 reais, cada uma, no mercado externo. Não é difícil imaginar um bando de esfomeados correndo atrás de caranguejeiras para entregá-las a bandidos que as repassarão a outros países.
Ao Estado totalitário do livro 1984, de George Orwell, é insuportável qualquer tipo de liberdade, principalmente a de pensar e questionar a política do governo. Os que infringem as regras são severamente punidos sendo, inclusive, submetidos à tortura. Para isso existe uma sala onde o torturado é submetido à pior coisa do mundo.
O que é a pior coisa do mundo? Depois de algumas páginas ficamos sabendo que a pior coisa do mundo depende do medo de cada um. Para Winston Smith, a personagem de Orwell que é torturada, a pior coisa do mundo é um grupo de ratos que são colocados perto do seu rosto, separados por uma pequena grade.
Não sei dizer se as baratas são a pior coisa do mundo para a maioria das mulheres. Há que se lembrar do efeito devastador que uma simples perereca é capaz de causar nas pessoas do sexo feminino.
Quanto a mim, nunca me dei bem com serpentes e aracnídeos. Não se trata de medo que me paralise a ponto de não ter coragem para enfrentar esses seres ou sair correndo. Como em geral acontece, o medo está ligado a alguma passagem da infância, esquecida ou não. No meu caso trata-se de uma velha casa de fazenda que pertenceu ao meu avô e onde dormíamos de vez em quando. Era dessas casas com piso de madeira e porão habitado por toda sorte de bichos, predominantemente aranhas e escorpiões. Eu me lembro de meu pai ao meu lado, durante a madrugada, afastando da minha cama um escorpião. Assim nasceu o medo. Freud explica.
Mas os meus medos não são o meu assunto. O meu tema é a recente descoberta de uma aranha boazinha, porque vegetariana. Ela vive no México e foi batizada como Bagheera kiplingi, nome que de modo algum faz justiça a ela. Acontece que “Bagheera” é o nome de um predador - a pantera das histórias de Mowgli, o menino lobo.
A notícia sobre a aranha vegetariana foi divulgada pela revista científica “Current Biology”. Trata-se, até onde se sabe, da única aranha do mundo a comer praticamente só plantas. E que não se assustem os leitores com esse “praticamente”: ocasionalmente a Bagheera pode comer larvas de formigas que vivem em folhas de acácias. Além disso, suspeita-se que ela não coma as larvas por simples gula. Os cientistas que a descobriram acham que as larvas ingeridas talvez forneçam à Bagheera bactérias da flora intestinal das formigas, permitindo a ela digerir pontas de folhas.
O que não se pode tirar da Bagheera é o jeitão agressivo que toda aranha tem. Tudo bem que ela é gente boa, vegetariana e tal, mas para quem tem medo continua sendo aranha. Vai daí que o melhor mesmo é saber da existência só por fotografia.