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Zé Arigó
Há tempos não aparece no país alguém que chame a atenção por práticas consideradas incomuns, senão inexplicáveis. A discussão sobre mediunidade e paranormalidade não tem estado em pauta embora se façam filmes baseados na doutrina espírita como o mais ou menos recente “Nosso Lar”, baseado no livro de mesmo nome do falecido médium Chico Xavier.
Entretanto, alguns casos atribuídos à mediunidade vez por outra são lembrados, continuando até hoje estranhos, isso para se dizer o mínimo sobre eles. Entre outros se destaca a figura do mineiro de Congonhas do Campo que ficou nacionalmente e internacionalmente conhecido como Zé Arigó. Os feitos de Arigó, descritos por seus biógrafos e por quem o conheceu, são muitos. De fato, nas décadas de 1960 e 1970, Zé Arigó atuou como médico e cirurgião espiritual, operando inúmeras pessoas que chegavam a vir de outros países para serem tratadas por ele. Para que se tenha ideia chegaram a existir linhas de ônibus regulares entre Buenos Aires e Congonhas do Campo. Tamanha era a fama de Arigó que médicos e pesquisadores norte-americanos vieram a Congonhas para estudar o caso.
Zé Arigó era um homem simples e operava fazendo uso de instrumentos rudimentares, Seu bisturi era um canivete com o qual fazia incisões pequenas as quais, mesmo sem cuidados assépticos, logo cicatrizavam e nunca infeccionavam. Existem vídeos de cirurgias de Arigó, alguns deles impressionantes. Mas de onde vinha essa capacidade impressionante?
Consta que Arigó teve um longo período de dores de cabeça e passou a ouvir uma voz que não entendia. Mais tarde conseguiu identificar a voz como pertencente a um médico alemão, Dr. Adolf Fritz, morto na primeira guerra mundial. As cirurgias seriam feitas pelo Dr. Fritz através do médium Zé Arigó.
Quando me formei no curso ginasial recebemos como prêmio uma viagem a Minas Gerais. Visitamos Belo Horizonte, Mariana, Ouro Preto e Congonhas do Campo. Meninos que éramos fomos iniciados no barroco brasileiro. Em Congonhas entramos em contato com a obra do Aleijadinho, o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos. Ali pude ver as imagens da Via Sacra esculpidas pelo artista. Naquele tempo era permitido entrar nas capelas e aproximar-se das imagens coisa inimaginável hoje em dia dado o perigo de que sejam danificadas.
Foi durante a visita a Congonhas que pude ver de perto o Zé Arigó. Estava ele em plena ação numa casa simples em torno da qual verdadeira multidão formava uma fila com pessoas aguardando o momento de serem atendidas. Na ocasião com custo aproximei-me da janela que dava para a rua e pude ver o Arigó trabalhando. Tinha ele as mãos sujas de sangue, certamente após realizar uma das suas cirurgias.
Ficou-me essa imagem da qual nunca me esqueci. Alguns anos depois Arigó desapareceu, tragicamente, vitimado em um acidente automobilístico.