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O fantasma de 50

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Vez ou outra um canal da TV paga exibe um filme sobre a Copa de 50. Não resisto a rever as cenas do Maracanã, com mais de 200 mil pessoas, na final do Brasil contra o Uruguai. A cena de Obdulio Varela correndo na direção do árbitro após o gol do Brasil é emblemática. O uruguaio queria -  e conseguiu -  esfriar o ânimo dos brasileiros. Recomeçasse o jogo em seguida e o Brasil teria massacrado o Uruguai, conforme afirmou Varela posteriormente.

No final, como se sabe, o Uruguai venceu por 2X1 e tornou-se campeão mundial. Considerada a maior tragédia acontecida no país a Copa de 50 só começou a ser menos valorizada após as muitas conquistas de nosso futebol nos anos que viriam.

Discute-se sobre a idade em que crianças guardam recordações que podem ser relembradas mais tarde. Em geral nos esquecemos de fatos acontecidos quando somos muito pequenos. Entretanto, posso dizer que o fato mais longínquo do qual guardo memória é justamente sobre a final de 50. Eu teria quase 4 anos de idade. Naquela época o rádio era o meio de comunicação que se tinha nas casas. Na sala de minha casa havia uma rádio vitrola na qual à sintonia das emissoras acrescentava-se a reprodução de discos de vinil. No dia do jogo reuniam-se algumas pessoas em torno do rádio, ouvindo a narração da partida. É clara na minha mente a imagem de minha mãe dizendo, após o gol de Ghiggia, que o Brasil ainda ganharia o jogo. Também inesquecíveis as faces das pessoas após o fim do jogo. Havia consternação. Aquele país atrasado perdera oportunidade única, coisa que a mim escapava na época. Mas, era a derrota.

Alguns anos tarde andava eu pela Rua São Bento, em São Paulo, em companhia de meu irmão. A certa altura ele parou e disse, apontando para um homem que atravessava a rua:

- É o Bauer. Veja como está moço.

Bauer já se aposentara do futebol. Fora o lateral da seleção brasileira no jogo contra o Uruguai. Estivera em campo naquela fatídica partida. Considerado o melhor jogador da Copa de 50 nem ele conseguira, ao lado de Jair, Zizinho e outros, evitar o grande debacle.

Os mais jovens não saberão o peso que a derrota de 50 teve sobre os brasileiros. Na Copa de 70, antes do jogo contra o Uruguai, assustava-nos o fantasma de 50. Felizmente vencemos e fomos campeões do mundo.

Haverá um tempo em que o jogo de 50 terá sido esquecido. Então, o fantasma da Copa perdida enfim poderá descansar em paz. A lembrança daquele Brasil governado por Dutra resistirá apenas nos manuais de história. Talvez, então, as lágrimas e a tristeza que torturaram milhões de brasileiros se apaguem para sempre. Restarão, contudo, as imagens de desespero cravadas nas faces daqueles que foram ao Maracanã para ver um Brasil campeão. Ainda poderão ser vistas nos filmes sobre a nossa gente.