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Música brasileira
Um músico profissional me pede para citar cantoras brasileiras “de verdade” em atuação no momento. Sinuca de bico. Disfarço, perguntando a ele o que significa, afinal, ser cantor “de verdade”. Ele sorri e diz: você bem que sabe. Trata-se de gente que não só tem voz, mas é capaz de cantar qualquer coisa. Gente que tem bossa, acrescenta. Termina criticando essas cantoras que, segundo ele, “miam” e não passam disso. Ficam miando uma frase depois da outra. Não são, por exemplo, como a Lenny Andrade, essa sim cantora “de verdade”.
Conheço o músico desde os meus tempos de criança. Na época dos Beatles ele simplesmente enlouqueceu com o som da rapaziada britânica. Lembro-me de que no lançamento do álbum “Help” o meu amigo músico vivia a cantarolar as novas músicas do conjunto. Aliás, a tentar reproduzir na sua guitarra os acordes dos rapazes de Liverpool coisa que muitas vezes provocava alguma reação na vizinhança.
Não sei se o músico tem razão ao dizer que hoje em dia não se encontram cantoras “de verdade”. Recentemente assisti a alguns programas do “The Voice Brasil” e não me senti seguro sobre as promessas de bons cantores. Temo ter ouvido no último programa da série algumas desafinadas dos participantes que poderiam muito bem ser atribuídas ao nervosismo. Mas, eram os finalistas, não?
Talvez por essa razão eu tenha me cansado dos barzinhos. Propagou-se neles a música ao vivo padrão executada por um músico ao violão e uma cantora com temas da bossa-nova. Em muitos desses casos acho que pode se aplicar a crítica do meu amigo músico. A coisa toda soa muito repetitiva e seria preciso muito talento para que se fruísse alguma diferenciação. Serão necessárias doses a mais de alguns drinks para que a música tocada venha a se integrar ao espírito da diversão. Mas, é bom não se esquecer de que não se pode exigir de todo mundo recursos de atuação realmente profissional.
O meu amigo músico é uma grande figura. No meu entendimento ele já habita aquele pórtico no qual a filtragem sobre o que tem ou não qualidade torna-se muito sofisticada. Ouvidos como o dele treinados e auxiliados por cultura musical, dificilmente aceitam o que não é bom. Isso eu disse a ele, colocando-me muitos e muitos degraus abaixo nas possibilidades de avaliação. Foi quando ele terminou a conversa, dizendo:
- É, mas você gosta de boa música e isso é quase tudo.
Pois é, o diabo é o “quase”.