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Cães e gatos
Domingo de manhã é dia de desfile de cães. Você vai à padaria e encontra os dois, o cão e seu dono(a), no caminho. Pessoas aproveitam a aproximação de seus cães para puxar um papo com desconhecidos. Os cães rosnam, roçam-se, cheiram-se e tornam-se amigos. Os donos também, pelo menos por alguns instantes.
Recentemente os cães deram assunto para capa de uma revista semanal: destacava-se o fato desses animais ocuparem, cada vez mais, espaço na vida das pessoas sendo companheiros ideais para solitários. Por trás das paixões, o crescente negócio dos pets shops nos quais se pode adquirir grande variedade de produtos.
Não se levam gatos para passear. Indóceis, os gatos não admitem coleiras e nem são dados a encontros casuais. Suas amizades são principalmente noturnas, sobre muros, em desvãos nos quais dão asas às loucuras de seus cios. Muita gente tem gatos como bichos de estimação. Há neles algo de sombrio e silencioso; agradam aos seus donos os movimentos precisos dos felinos e o olhar que parece ultrapassar aquilo que eles observam. Mesmo quando muito bondosos os gatos reservam-se algo de selvageria que se manifesta através da demonstração das suas afiadas garras quando se veem em situações de perigo. Tem-se dentro de casa, portanto, uma miniatura de onça ou pantera, mas que se liga aos donos afetivamente garantindo-lhes momentos de prazer.
Há quem prefira cães, outros se dão bem com gatos, encontram-se menor número de pessoas aficionadas aos dois. O escritor argentino Julio Cortázar era louco por gatos. Entre seus livros deixou-nos um, de contos, intitulado “Orientação dos gatos”. Mais que isso, Cortázar teve um gato ao qual se referiu em sua obra. O escritor deu ao seu gato o nome pomposo do filósofo alemão Theodor Adorno.
Não é rara a participação de gatos nas histórias de horror. O escritor norte-americano Edgar Allan Poe escreveu um conto cujo título é “O gato preto”. Trata-se de uma história terrível na qual um gato preto desponta como personagem importante durante a realização de um crime.
Os gatos eram considerados animais sagrados no antigo Egito. A coisa funcionava do seguinte modo: se alguém matasse um gato era punido com a morte; se um gato morria naturalmente, seus proprietários usavam trajes de luto.
Se você já teve gatos, conhece os hábitos desses bichanos. Provavelmente acostumou-se aos miados fora de hora, aos insistentes pedidos de comida, ao sono do animal durante o dia, à sua impressionante agilidade, à sua curiosidade (lembre-se, a curiosidade matou o gato!) e ao comportamento absolutamente neurótico de alguns deles.
O fato é que gatos às vezes aprontam e dão trabalho. Talvez por isso se deva dar credibilidade a esse norte-americano que foi preso, dias trás, acusado de pornografia infantil – a polícia encontrou mais de mil fotos em seu computador.
O interessante é que, ao ser preso, o homem não negou a existência das fotos. Ao contrário, admitiu tê-las, mas alertou que não fora ele o responsável pelos downloads. Segundo polícia, Griffin – esse o seu nome – atribuiu ao seu gato a responsabilidade pelas fotos: Griffin estava fazendo download de músicas quando o gato pulou sobre o teclado do computador, acionando desse modo o recebimento das fotos pornográficas.
Eis aí algo imprevisto e perigoso que se soma às muitas possibilidades de acontecimentos nas relações entre pessoas e seus animais de estimação. O que se sabe é que, talvez por falta de sensibilidade, a polícia não acreditou na versão de Griffin. Em todo caso, Griffin está preso e não há notícia sobre a prisão do gato.
Bichos de estimação
Podem ser de pelúcia, mas os vivos são os preferidos. Ele(a) e o(a) dono(a) são cara de um, focinho do outro. Pelo jeito e cara do cachorro adivinha-se como é o dono e vice-versa - isso quem me diz é pessoa muita entendida. Talvez isso explique as preferências das pessoas por diferentes raças de cães e assim por diante. Em relação a gatos a coisa é mais complicada: gatos são seres mais noturnos, ativos nas madrugadas, atalaias de telhados como muita gente gostaria de ser.
Nada contra os bichos. Na sociedade atual, excludente, na qual quase todas as relações tendem ao conflito motivado por várias razões, os bichos de estimação funcionam como uma espécie de salvação: eles ouvem calados, não respondem, devolvem afetos e passam muito bem por desinteressados. Aparentemente neles existe o amor verdadeiro, quando não aquela adoração de quem é capaz de dar a vida pelo dono.
E assim os bichos vão ocupando espaços deixados pelos humanos, daí a proliferação de negócios cada vez mais rendosos. Prova disso é a palavra “pet” que encabeça larga rede de atividades de natureza econômica.
Problemas? Só para pessoas próximas aos donos dos animais. Como dizia um filósofo popular, é o tipo da coisa: você conhece bem o amigo, quer-lhe um bem danado, mas de repente reconhece no animal de estimação dele a exacerbação das suas chatices pessoais. É como se no animal se aprofundassem as idiossincrasias do dono. Ou coisa parecida, os psicólogos talvez expliquem melhor.
Tem mais: bichinho bonitinho é bonitinho mesmo para o dono; caso aliás muito parecido com o de algumas crianças, tão lindas para os pais, mas frequentemente chatinhas para outras pessoas.
Quem não concordar que atire a primeira pedra.