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O calor
Há quem ame os dias de altas temperaturas, tardes e noites suarentas. Circular nas ruas sob o sol inclemente faz a delícia de muita gente. Que dizer, então, das praias lotadas onde é preciso ter sorte para arranjar um espacinho onde se doure a pele.
O Brasil é vasto, mais de 8 mi de Km². O nordeste tem sol quase permanente, geografia invejável e seca nos seus interiores. O sudeste fica entre o sul mais frio e o bom tempo nordestino. O litoral de São Paulo equipara-se ao Rio em termos de calor. Santos é quase um Rio com o ar denso, ventos escassos, temperaturas altas e um sol de rachar.
País tropical tem isso de convidar à indolência. Tanto calor que dá preguiça à qual nem sempre se resiste. Mas, ainda bem que hoje em dia certos estereótipos foram deixados de lado. O falado brasileiro preguiçoso, indolente e pouco afeito ao trabalho foi desmentido. Brasileiro trabalha e muito, pena que os governos não façam a parte deles.
O grande crítico José Veríssimo escrevia no início do século 20 sobre a quase impossibilidade de escritores brasileiros se proporem a obras de grande envergadura. O calor do Rio naquela época funcionaria como freio aos projetos do espírito. Quase impossível concentrar-se e criar sob[A1] [A2] um cima daqueles. Pelo visto era o clima o fator que explicaria as diferenças de produtividade entre os mestres europeus e as gentes tupiniquins.
Escrevo porque sai à rua e andei em direção à praia. Topei com faces suadas e expressões de desânimo. À uma da tarde fazia calor de rachar. Enterneceu-me um idoso que colocou na calçada imagens de santos fabricadas por ele. Não eram bem feitas. Uma senhora que passava interessou-se por uma Nossa Senhora. O velho disse o preço e a mulher começou a regatear. Tive pena do velho ali, àquela hora, sob aquele calor, tentando ganhar uns poucos reais em seu minúsculo negócio informal. A certa altura ele me olhou como a perguntar se eu gostaria de comprar uma imagem. Fiz que não e apressei-me em seguir meu caminho.
Era um velho lutando pela vida. As pessoas passavam por ele e suas imagens, indiferentes.