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Eu, consumista?
Meu caro amigo, olhe para a lente da verdade e responda: você é consumista?
Grande parte das pessoas nega peremptoriamente, embora seja dada ao consumo exagerado. Mas que fazer se este bom e velho mundo se transformou num imenso shopping de atrativos que nos acossam por toda parte, para não dizer por todos os lados? Você liga a televisão e lá estão as propagandas afirmando que está mais que na hora de trocar o seu carro, comprar isso e aquilo…recebe a sua correspondência e, no meio das contas a pagar, encontra aqueles caderninhos com sugestões de produtos variados que podem ser comprados pela internet em suaves dez ou doze prestações…nos sinais de trânsito dá de cara com aquelas moças, entregando folhetos sobre a venda do apartamento dos seus sonhos, tudo financiado…e por aí afora.
No mundo globalizado tudo está á venda, até mesmo o prazer que você pode adquirir, por algumas horas, através dos favores sexuais de uma moça contratada via internet. E que dizer das maravilhas tecnológicas que surgem da noite para o dia como os computadores com os novos processadores, os tais i3, i5, i7? Como é que você, um cara moderno, atualizado, pessoa do seu tempo pode ficar à margem de algo que promete dar mais fluidez ao seu trabalho, à sua vida? E quanto às roupas, os sapatos, as bolsas e os novos cremes que prometem rejuvenescimento, fazendo a delícia das mulheres?
Pois. No mundo de hoje grande parte do lazer foi transformado em comprar, ainda que os custos ultrapassem as capacidades de pagamento. Aliás, não é por acaso que a mídia fala muito sobre o calote dos cartões de crédito que estão sendo usados em proporções gigantescas.
Bem. Falar mal dos outros é bom, criticar a sociedade melhor ainda. E eu? Sou consumista? Que responderei ao olhar diretamente para a lente da verdade?
Embora me ache contido confesso que tenho lá os meus sonhos de consumo os quais, de vez em quando, realizo. As minhas principais taras ligam-se aos avanços tecnológicos. Essas novas filmadoras full HD, as câmeras fotográficas com muitos megapixels e os notebooks… Mas, me diga: quem pode resistir a um Sony Vaio com tela full HD, gravador de bluray e processador i7? Pena que seja tão caro, mas não custa sonhar. De repente aparece uma boa oferta naqueles caderninhos que chegam pelo correio…
Escrevo essas mal traçadas porque hoje de manhã senti certa culpa em relação ao consumismo. Encontrei, aqui no prédio, um vizinho que me propôs uma troca de garagens. A coisa funciona assim: as garagens se localizam no térreo e no mezanino; a minha fica no térreo e a dele no mezanino. Ele propôs a troca, dizendo que não gosta do mezanino. Perguntei por que e ele me disse que para levar o carro ao mezanino há que se subir uma pequena rampa.
- E que tem isso? – perguntei
O vizinho me explicou:
- Ao subir, o carro despende um esforço maior que se faz apenas de um lado, provocando maior desgaste nos pneus do mesmo lado.
Não fiz a troca das garagens porque estou satisfeito com a minha. Mas não consigo me esquecer desse homem que se preocupa com os mínimos detalhes e, certamente, não é dado ao consumo. Tem ele um carro que não é novo, do qual cuida muito bem. É atento ao prejuízo que poderá ter caso um pneu se desgaste mais que outro, ainda que isso leve anos para acontecer dado que a rampa a subir é mínima.
Pelo amor de Deus, não estou criticando o meu vizinho. Ele é feliz do jeito dele, certamente não sonha com um Sony Vaio full HD e deve dar uma grande banana para esse tal mundo globalizado, cheio de ofertas.