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Janeiro das catástrofes
Sempre tive medo de tromba d’água. Em menino aprendi que nuvens muito carregadas podem despejar toda a água em ribanceiras. Daí que a água desce, verdadeiro rio, levando consigo o que encontra pela frente: pedras, terra, árvores e casas, vidas, tudo enfim.
Em conversa com outras pessoas acaba-se concordando com o fato de que no passado o clima era muito diferente, o inverno era mais frio, por exemplo. Quem conheceu Campos do Jordão há 50 anos ou mais afirma que o frio era, no passado, muito mais intenso na cidade. Invernos muito rigorosos traziam grandes geadas, água congelada dentro de encanamentos e outros comemorativos que acompanham as invernadas. Às vezes acho que o passado fica cada vez mais distante e as lembranças ganham corpo, sendo natural a tendência de valorizarmos mais certas ocorrências.
Não sei, não. Quem morou em cidades cercadas por montanhas – casas localizadas num vale com morros em ambos os lados - aprendeu a temer as forças da natureza. Tempestades prolongadas, com direito a relâmpagos, raios e muita água preocupam os moradores locais para quem catástrofes estão sempre em perspectiva.
Talvez por essa razão seja-nos inadmissível assistir a essa espantosa catástrofe ainda em curso nas cidades da zona serrana do Rio. Não é o caso de repetir aqui tudo o que se diz na imprensa sobre o descaso de autoridades, falta de ação de governos, promessas eleitoreiras e tudo o mais ao que se pode acrescentar a imprudência de pessoas que constroem casas em lugares inapropriados. Todo esse palavrório perde o sentido diante de cadáveres cobertos por pedaços de lona e pessoas ainda desparecidas.
As chuvas, infelizmente, continuam. Novos governantes visitam as regiões atingidas pelas tempestades, obviamente com ares de nenhuma culpa em relação ao ocorrido, afinal a responsabilidade recai sobre administrações anteriores. Enfim, trata-se de uma história que se repete porque, a seguir a carruagem no ritmo de sempre, daqui a alguns anos novas tragédias poderão acontecer e os culpados serão aqueles que hoje parecem isentos de qualquer responsabilidade em relação aos infaustos acontecimentos.