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Maternidade
Pessoas. Imprevisíveis. Há o japonês que olha pelo vidro do berçário o filho recém-nascido. Do outro lado uma criança brinca, arrancando pedaços de fotografias pregadas na parede – ela faz isso e os pais, imóveis, apenas observam, sem nada dizer.
A médica passa com seu avental branco, entra num quarto, demora-se, sai e entra noutro quarto. Depois retorna, pára no posto da enfermagem, prescreve nas papeletas e o máximo que se obtém dela é um sorriso amarelo estampado na face cansada.
Há o casal de velhos bem arrumados. Eles acabam de se tornar mais uma vez avós, sentam-se na lanchonete e observam a chuva, quietos, enfastiados com o ciclo da vida que se prepara para descartá-los.
No andar térreo a cada instante está um porteiro junto à catraca. Todos os porteiros usam terno escuro, fazem os mesmos gestos, sorriem pontualmente. São homens genéricos que vigiam o entra e sai de pessoas, sem palavras, mecanicamente dentro de seus ternos escuros.
Há o homem que anda de um lado para outro perto do centro cirúrgico onde sua mulher está para dar à luz. De vez em quando a porta se abre e uma enfermeira põe o rosto para fora, observando o corredor. Então o homem agita-se e pergunta:
- Nasceu?
- Ainda não, não nasceu, mas nascerá, é só esperar.
As visitas enchem os quartos das mães que pariram, saudando a chegada de gente nova ao mundo.
Os casais colocam enfeites nas portas dos quartos com o nome dos recém-nascidos. De quando em vez os enfeites são acompanhados de fotos, nem sempre de bom gosto.
Os corredores são longos, cheios de flores e fotografias de crianças. Junto à porta do último quarto um homem soluça baixinho porque a mulher dele perdeu a criança.
Há a tabela com o número de cesarianas previstas para o dia: serão 47 crianças a nascer.
No meio disso tudo estão os recém-nascidos, protegidos dentro do berçário. São minúsculos e dormem o sono pesado de um mundo que ainda não conhecem. Serão homens, mulheres, médicos com aventais brancos, japoneses que olham os filhos através dos vidros de berçários, mães que deram à luz, avós que observam a chuva, homens nervosos que esperam o parto da mulher, crianças que arrancam pedaços de fotografias das paredes, porteiros vigiando pessoas que passam pelas catracas…
A cada dia uma leva de gente parte enquanto outra chega. Enquanto isso, o mundo gira indiferente.