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Lá se vai agosto
Agosto é o mês do cachorro louco – diz-se. Muita gente não casa em agosto por medo de desgosto. O fato é que o mês que termina é considerado azarento, daí ser ligado, por muita gente, a superstições, simpatias e coisas do ofício esotérico.
Li num site o que o nome agosto foi dado ao oitavo mês pelos romanos que o tinham como azarento. Como se percebe de lá para cá a humanidade não mudou muito. É verdade que no Brasil agosto é sempre lembrado por acontecimentos históricos fatídicos: Getúlio Vargas suicidou-se em agosto de 1954, Jânio Quadros renunciou em agosto de 1961, Costa e Silva teve um derrame cerebral em agosto de 1969 e Juscelino Kubitscheck faleceu num acidente em agosto de 1976.
Os fatos que acabo de relacionar tiveram, obviamente, grandes repercussões políticas no Brasil. Mas a sina de agosto não é restrita apenas ao país dos brasileiros. De fato, uma rápida pesquisa na internet nos traz casos fatídicos ocorridos no mês de agosto em todo o mundo. Só para lembrar a bomba atômica sobre Hiroshima foi lançada em agosto de 1945, o muro de Berlim começou a ser construído em agosto de 1961 e por aí vai.
Deste agosto vou guardar como acontecimento fatídico a chacina ocorrida no México. Há muitos outros, pungentes, como essa monumental enchente no Paquistão. Ocorre que a chacina mexicana, na qual imigrantes tentavam entrar ilegalmente nos EUA pela fronteira com o México, é dessas coisas que não descem goela abaixo.
De ontem para hoje confirmou-se a existência de dois brasileiros entre os mortos. O corpo de um deles já foi identificado, do outro foram encontrados apenas os documentos. Gente simples, pobre, oriundos de cidadezinha do interior de Minas Gerais, jovens que imaginaram tentar a sorte nos EUA, vítimas do sonho americano.
Repórteres das grandes redes de televisão entrevistaram as famílias dos dois jovens. A simplicidade de do lugar onde moram, a pobreza e falas nas quais se destacava empréstimo de para a viagem dos dois e a promessa de que enviariam dinheiro assim que começassem a trabalhar compunham um quadro de enorme tristeza e choro. Aos familiares dos jovens, gente pacata do interior, soava incompreensível que traficantes houvessem matado os rapazes por motivo tão fútil qual seja a recusa de trabalharem para o tráfico.
Quem sabe agosto não seja o mês azarento na proporção em que é considerado. Provavelmente no mundo atual onde acidentes e crueldade são cotidianos, os demais meses se igualem a agosto. Mas, não se pode falar em azar quando o assunto em pauta é a chacina ocorrida no México. Lá o que acontece é um desgoverno, a ruptura do Estado numa região sobre a qual se perdeu o controle. Esse descontrole está expresso no assassinato, nas últimas horas, de um prefeito de cidade próxima ao local onde ocorreu a chacina dos imigrantes. Estava com ele uma filha de 4 anos de idade que foi ferida e encontra-se internada, em estado grave.