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Apagão

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Deixo claro que detesto apagões. Trauma de infância, talvez. Criado em lugarejo, fronteira entre São Paulo e Minas Gerais, recebíamos a energia da Companhia Sul-Mineira de Eletricidade. Eram frequentes os desalinhos das linhas de energia pelo que, por vezes, perduravam por meses quedas de fase. Você sabe como é a luz provida por apenas uma fase? Pois é uma luz fraquinha, mortiça, melancólica, desesperadora. Os chuveiros não esquentam a água para o banho, o rádio – ah o velho rádio – não funciona e vive-se num mundo de ontem que ainda hoje, infelizmente, persiste em muitos lugares do país.

Agora, o que não se perdoa, não se entende, é que no  novo século, neste 21 que já vai indo, de repente falte a energia e o mundo fique mergulhado na escuridão. Com hidroelétricas e cabos ligando regiões distantes, como é que de repente falta luz e empresas parem, vidas corram riscos nos hospitais, sinais de trânsito deixem de funcionar, elevadores fiquem parados e todo mundo sofra porque não há energia e só a bandidagem se ufane porque pode praticar crimes sob a luz de velas?

Não é possível, não? Mas, é sim. Acaba de acontecer um enorme apagão que atingiu 11 estados mostrando que o sistema elétrico do país não é nem um pouco confiável. A falha aconteceu na linha de transmissão entre Tocantins e Maranhão, gerando um efeito cascata que deixou no escuro milhões de pessoas no Norte e no Nordeste. Aí começaram a suspeitar de sabotagem para, no fim das contas, o próprio governo vir a público reconhecer que o sistema não é confiável, que a confiabilidade precisa ser restituída.

Entrevistado, o Prof. José Goldenberg falou sobre a falta de opções e, principalmente, dos descuidos quanto à manutenção. Grandes empresas pronunciaram-se sobre os prejuízos em relação à produção. Capitais como Salvador e outras grandes cidades ficaram no escuro, estabelecendo-se o caos em serviços e transportes.

E dizer que esse foi o terceiro caso de grandes proporções ocorrido no país num prazo de cinco semanas. Eu que não gosto da escuridão espero que as autoridades resolvam os problemas. E não adianta me dizerem que as hidroelétricas ficam longe daí dependermos de muitos cabos que trazem a energia aos aglomerados urbanos. Para ser franco esse é um problema a ser considerado por quem é do ramo. Nós só queremos luz.