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Espírito de natal

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Conheço um cara que odeia o tal “espírito de natal”. Para ele trata-se de uma bobagem que mais serve aos bons negócios do comércio. Ele cita a chatice das ceias de natal nas quais sentam-se, lado a lado, tantos desafetos. Aquele parente que você gostaria de ver queimando no inferno estará lá, sorridente, como se nada tivesse acontecido. Mais que isso, a verdade é que o homem não é um ser bom de modo que as festividades de fim do ano não passam de enganação. Vá lá que crianças esperem pelo Papai Noel, isso é até aceitável embora o esforço de tantos pais para arranjar dinheiro e comprar aquilo que o filho pediu na cartinha ao bom velhinho.

Supõe-se que a maioria das pessoas não concordem com isso. Ainda bem. O natal tem lá as suas chatices, mas é bom momento para que seres humanos se congracem, mais que isso, se unam. Nesse ano ele chega num momento de grandes dificuldades geradas pela pandemia viral. Recomendam-se cuidados para evitar contaminação pelo vírus. Festas familiares com muitas presenças são desaconselhadas. Mas, eis que o espírito de natal contribui para que a solidariedade prevaleça.

Mas, não há como ignorar o natal, nem o presente, nem os passados. Os filhos cresceram, já não se compram para eles os brinquedos que amarrávamos dentro de caixinhas tão bonitas. Agora a vez é dos netos. Serão eles a correr pela casa na noite que se avizinha. Trarão com sua alegria outras alegrias, já vividas, de tantos natais de tão boas lembranças. E nos farão outra vez os jovens que fomos em torno da árvore de natal com nossos filhos pequenos. É Cecília Meireles quem nos devolve esses momentos:

“São as cestinhas forradas de seda, as caixas transparentes, os estojos, os papéis de embrulho com desenhos inesperados, os barbantes, atilhos, fitas, o que na verdade oferecemos aos parentes e amigos. Pagamos por essa graça delicada da ilusão. E logo tudo se esvai, por entre sorrisos e alegrias. Durável — apenas o Meninozinho nas suas palhas, a olhar para este mundo”.

Escrito por Ayrton Marcondes

22 dezembro, 2020 às 1:26 pm

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Presentes de natal

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Aproxima-se o natal e as cenas se repetem. Como em todos os anos pessoas correm ao comércio a comprar presentes para os seus próximos. Há um frenesi de compras, reina a alegria que antecede a surpresa e, imposta ou não, a felicidade se estampa nas faces sorridentes. Quem divida ou não concorda com essas observações que se arrisque a um shopping para comprovar que, não importando o ano, as pessoas se entregam aos mesmos hábitos, afazeres e preparativos, comportando-se como se tudo fora novo e o natal uma invenção recente. Aliás, eu também, embora a minha preguiça de sempre de misturar-me à multidão de consumidores de última hora, aqueles que só vão atrás de presentes quando não tem mais jeito.

Ei, não sou contra o natal, muito menos contra a tradição de presentear pessoas nessa ocasião. Aborrece-me – esse é bem o termo – a imposição de presentear por hábito, quando não por obrigação. Entendo que presente é uma coisa tremendamente pessoal, algo que se encontra ao acaso e justamente nos dá o prazer de adquirir para dar a alguém de quem gostamos. Há nisso, segundo penso, muito de prazer, surpresa, aproximação entre pessoas, carinho e tudo o mais. Você dá algo de que gostou, a pessoa recebe um presente inesperado que a faz feliz.

Não é assim no natal. Por outro lado, o hábito e a tradição nos condicionam a receber e dar presentes. Isso está de tal modo arraigado em nossas naturezas que não proceder assim pode gerar ressentimento, senão tristeza. Trata-se, portanto, da famosa sinuca de bico: ou agimos de modo padronizado, ou corremos o risco de provocar desencanto em pessoas a quem queremos tanto.

Mas, nada disso é tão importante, o que vale é a noite de natal quando, afinal, esquecemo-nos de tudo e trocamos presentes, assim como fizeram os que vieram antes de nós e farão as próximas gerações, isso para a alegria geral da nação e de todo o comércio.

Escrevo sobre esse assunto após conversa com um amigo, ele indignado com os preços e a obrigação de dar presentes a tanta gente. Semana passada foi o amigo a um shopping fazer as suas compras. Para isso escolheu o horário das nove da noite o qual, segundo esperava, fosse de pouco movimento. Segundo me contou as agruras dele começaram já no estacionamento onde praticamente inexistiam vagas para deixar o carro. O resto das lamurias do meu amigo concentraram-se em lojas cheias, correria, muita falta de educação, mau humor e, finalmente, na gastança de dinheiro, segundo ele, imposta e desnecessária. Irritado, estendeu-se o meu amigo em críticas às datas inventadas pelo comércio, passando pelos dias de pais, mães, avós, namorados, natal, que nada mais são – segundo as palavras dele – momentos de pico de vendas urdidos pela gente de marketing, gente essa sempre pronta a criar ocasiões propícias à gastança.

Em vão ponderei sobre o outro lado das coisas, afinal datas como essas servem ao congraçamento de familiares e amigos que não ocorreriam de outra forma dada a correria da vida. Mas, nenhum argumento contribuiu para amenizar o mau humor do meu amigo, ainda às voltas com os eflúvios de uma noitada de compras de natal.

O fato é que não adianta espernear. A vida é assim, somos assim. Depois, na noite de 24 para 25, as coisas se passarão como sempre, haverá a ceia e a troca de presentes. Nessa ocasião provavelmente todas as atribulações serão esquecidas e a alegria daqueles que receberão os presentes que dermos a eles dará por bem pago algum esforço dispendido para comprá-los.

Feliz natal.

Escrito por Ayrton Marcondes

21 dezembro, 2010 às 7:52 am

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