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O povo no labirinto
Num conto de Borges um rei recebe a visita de outro e o leva para conhecer seu labirinto. Deixado no interior do labirinto o rei visitante demora horas para encontrar a saída. Humilhado pelo monarca a quem visita, o rei, entretanto, nada diz.
Tempos depois é o rei antes humilhado quem recebe aquele que o humilhou. Então o rei leva o seu agora hóspede para conhecer seu labirinto. Ao chegar a seu destino o rei explica que seu labirinto não tem paredes e é infinito. Em seguida abandona o visitante, que antes o humilhara, no deserto.
No mitológico labirinto de Creta vivia o Minotauro, monstro metade homem, metade touro, a quem eram oferecidos, regularmente, jovens aos quais devorava. Na vez em que Teseu foi introduzido no labirinto de Creta conseguiu derrotar o Minotauro, encontrando a saída graças a um novelo de linhas que a ele foi dado por Ariadne.
Os labirintos têm entradas incertas e são compostos por caminhos que confundem a orientação espacial, dificultando encontrar-se a saída. O termo labirinto também se aplica a situações vividas e não compreendidas que resultam no desnorteamento dos seres humanos.
O Brasil de hoje figura-se como um grande labirinto no qual seus cidadãos, desnorteados, percorrem caminhos aparentemente sem saída. A escalada da violência no país desafia as autoridades que mais parecem perdidas quanto aos modos de combatê-la. O assassinato da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro, provocou manifestações de milhares de pessoas que saíram às ruas para protestar. Exigem-se medidas urgentes e eficazes para por fim à crescente violência no país.
Mas, infelizmente, trata-se de um labirinto. Resta-nos torcer pelo milagre de uma nova Ariadne que indique o caminho para escaparmos do monstro que tanto nos assusta.