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O técnico da seleção
O presidente dos EUA é considerado o homem mais poderoso do mundo. Nos últimos anos mulheres têm ocupado postos de alta relevância: Angela Merckel na Alemanha, Cristina Kishner na Argentina e Dilma Roussef no Brasil são as primeiras mandatárias de seus países.
Para muita gente no Brasil a importância da presidência da República é dividida com o cargo de técnico da seleção brasileira de futebol. Técnico da seleção nacional é um cara pra lá de importante porque detentor de poder paralelo na chamada pátria de chuteiras. Diz-se que em cada brasileiro existe um técnico de futebol e raramente existe concordância geral com as preferências daquele que comanda a seleção. Quando o Brasil venceu a Copa de 58 sob o comando do pacífico Vicente Feola nem assim houve acordo geral. Lembro-me de jornalista que baixou o pau sem seus comentários pelo rádio nos minutos que se seguiram à grande vitória sobre a Suécia e, depois, salvou-se de apanhar quando apareceu no Pacaembu para comentar jogo local. Que dizer do falecido Cláudio Coutinho que conseguiu unir o país contra si a ponto do técnico Osvaldo Brandão declarar-se pronto para assumir a seleção, isso com a Copa do Mundo de 78 em andamento? O time escalado pela torcida não era aquele que Coutinho colocava em campo. No fim o Brasil foi “campeão moral” e as coisas ficaram do jeito que ficaram: nó na garganta de um povo apaixonado por futebol.
Agora o Brasil prepara-se para sediar a Copa do Mundo de 2014. As obras - que a todo dia se nega estarem atrasadas - correm soltas país afora. Estádios, aeroportos, hotéis, meios de transporte, aparatos de segurança e outras providências vêm sendo tomadas para que o país não faça feio diante do mundo. Quanto ao futebol nem pensar no repeteco da tragédia de 1950 no Maracanã quando a seleção perdeu o título mundial para o Uruguai de Obdúlio Varela. Entretanto, embora a proximidade da Copa - e antes dela a Copa das Confederações - a seleção brasileira continua indefinida não se sabendo ao certo quais os jogadores que vestirão as camisas que tanto encantam ao povo. A começar pela demissão do presidente da CBF sob acusações de corrupção e seguindo-se ontem pela mudança de técnico pode-se dizer que, em termos de selecionado brasileiro, voltou-se à estaca zero. Ninguém sabe quem será o próximo técnico daí ser impossível fazer-se ideia sobre os nomes que ele escolherá para compor o plantel da seleção.
Hoje se publicam as mais diferentes opiniões sobre a demissão do técnico Mano Menezes. Há quem veja manobra política e momento inoportuno. Outros acham que o técnico deixou a desejar e apontam diferentes razões que justificariam a demissão. A verdade é que faltou a Mano Menezes o carisma que gera confiança. Não teve ele a presença que empolga e não logrou transferir segurança à enorme torcida brasileira. Não que não seja bom técnico, o problema foi e é a dimensão do cargo. Presidentes da República têm à sua volta um mundo de ministros, assessores e todo tipo de ajuda para que mesmo seus erros muitas vezes não transpareçam. O técnico da seleção não goza da mesma sorte. Ele é visível demais, cada decisão sua é avaliada no momento em que é tomada, Demais, futebol é resultado. E os resultados obtidos por Mano Menezes no comando da seleção deixaram a desejar.
Ao meu tio Edésio - notícias sobre o futebol
Escrevo para dar noticias sobre o seu esporte favorito: o futebol.
Em primeiro lugar vou falar sobre o seu time do coração, o São Paulo, que o senhor em momento inspirado apelidou de “Colosso”. Pois o Colosso vai mais ou menos bem, obrigado. Depois de ganhar pela sexta vez o Campeonato Brasileiro, o Colosso se acomodou e deu para perder competições. Foi assim com o Campeonato Paulista e a Taça Libertadores da América. Agora o Colosso está na disputa do Campeonato Brasileiro, mas com tantos altos e baixos que o melhor é não acreditar muito que ele possa vir a ser campeão.
Na verdade, tio, o futebol mudou muito de uns anos para cá. Cada vez mais um grande negócio, o futebol de hoje globalizou-se no pior sentido do termo: os bons jogadores atuam fora de seus países e só se reúnem para jogar pelas seleções nacionais. Posso garantir que o senhor acharia realmente incrível o fato de a Seleção Brasileira entrar em campo, hoje em dia, sem nenhum jogador atuando no Brasil. Pois isso acontece muitas vezes dado que os jogadores estão mais para caixeiros-viajantes de sua arte que atletas de futebol.
Tudo muito diferente, tio, dos bons tempos em que sabíamos as escalações dos times e quem jogava nessa ou naquela posição. E olhe que isso tem afetado até mesmo o amor à camisa: acredite o senhor que, na última Copa do Mundo, o Brasil foi desclassificado e os jogadores saíram de campo como se tivessem participado de um jogo de várzea, alguns muito sorridentes. Atrás deles um país inteiro torcendo e sofrendo. Tio, eu não me envergonho de confessar: quando vi aquilo me senti um grande idiota por ter torcido pelo Brasil. Pode uma coisa dessas?
Mas, voltemos ao Colosso. O grande clube está envolvido com a realização da Copa do Mundo de 2014 que acontecerá aqui no Brasil. O senhor deve se lembrar bem do Morumbi, o campo sagrado dos tricolores. Lembra-se, também, da dureza que foi o período de construção do estádio durante o qual o senhor e outros tricolores fanáticos sofreram muito porque o Colosso não tinha dinheiro para montar um bom time. Anos e anos de luta e sofrimento da torcida resultaram na posse de um grande estádio, orgulho da cidade de São Paulo e palco de jogos memoráveis. Pois agora, o Morumbi é o estádio mais cotado para a realização de jogos da futura Copa do Mundo na cidade de São Paulo.
Entretanto, meu caro tio, não é que um tal Joseph Blatter, presidente da FIFA, deu de falar mal do Morumbi, dizendo que não serve para a Copa e outras barbaridades? O mais triste é que tem muita gente de outros estados vibrando, o que é inaceitável – trata-se da velha rivalidade. A verdade é que Blatter rebaixou o estádio que tem o apoio do governo do Estado e da prefeitura da capital. Tem gente por aí falando em lobby de outros estados contra São Paulo. No final das contas o que a FIFA diz é que o estádio não tem condições de abrigar 65 mil pessoas e assim por diante. Os dirigentes do Colosso discordam, afirmando que o clube fará a sua lição de casa e atenderá às exigências da FIFA até a realização da Copa.
Aliás, tio, não custa nada contar para o senhor alguma coisa sobre a FIFA. Imagine que essa entidade negociou com “alguém” do governo - que ninguém diz quem é - a isenção total de impostos para patrocinadores, fornecedores, enfim todas as empresas ligadas à realização da Copa do Mundo. Trata-se de muito dinheiro, uma enormidade de negócios. Só que agora o pessoal da Receita Federal, que pelo jeito acaba de saber disso, está se opondo a esse absurdo. Ainda bem. Imagine o senhor que todos nós aqui damos um duro desgraçado e o governo do país nos impõe uma das mais altas taxas de impostos do mundo. Ai vem para cá essa turma toda e, na cara dura, é favorecida. Pode? O senhor não acha um absurdo?
Pois é. Mas, tio Edésio, isso não é tudo. Veja que tamanha desfaçatez baseia-se numa exigência da FIFA para a realização da Copa no Brasil, exigência essa que foi aceita por “algum negociador” que certamente não agiu sozinho. Esse(s) negociador(res) deve(m) ter até um chefe, tio, embora nisso as coisas não tenham mudado porque “neste pais” ninguém sabe de nada quando a podridão vem à tona.
O que espanta é que a FIFA, presidida pelo tal Blatter (o Havelange deles), não é um negócio pequeno, muito pelo contrário. A entidade movimenta por ano cerca de metade do PIB da Argentina, país que faz parte do G-20, o grupo de países que conversa sobre a economia do mundo. É dinheiro prá caramba que a FIFA movimenta, muito mais que o PIB anual de inúmeros países.
Diante disso tudo, a alegria que resta é a de dar a louca nos jogadores e o Colosso vencer o campeonato deste ano. Se acontecer, prometo escrever contando tudo para que o senhor comemore aí.
Tio Edésio eu raramente escrevo cartas, o senhor sabe como é isso. Mas hoje me deu vontade de enviar essas mal traçadas. O senhor nos deixou há muito tempo e o mundo em que vivemos está bem diferente daquele que o senhor conheceu. Mas, não se preocupe: continuo o mesmo cara de sempre, talvez um pouco fora de moda por acreditar em valores que têm sido esquecidos por boa parte das pessoas.
Essas são as notícias aqui da terra que eu queria passar para o senhor que, tenho certeza, continua sendo um grande apaixonado pelo futebol.
Um grande abraço e muita saudade.