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Brasil desbotado
Na esquina da rua em que moro há uma bandeira do Brasil. Ela está no alto, presa por cordas, junto à rede de fios elétricos.
A bandeira do Brasil foi colocada ali dias antes do início da Copa do Mundo de 2010. Torcedores da seleção, animados com a possibilidade de conquista da Copa, colocaram o símbolo nacional naquele lugar para que todos o vissem e vibrassem com ele. A intenção era a de, provavelmente, criar uma corrente cuja força ajudaria a seleção nos difíceis jogos da Copa.
O ano de 2010 caminha para o final. O Brasil perdeu a Copa, muita coisa aconteceu desde então. Também tem chovido bastante de modo que a bandeira nacional está perdendo a cor: os símbolos estão quase apagados, poucas estrelas – representantes dos Estados - persistem.
Passo diariamente pelo local e acompanho a inevitável deterioração da bandeira. Quando menino aprendi a respeitar e amar a bandeira do meu país. Mais tarde, soube da orientação positivista do símbolo nacional, nascido na grande indefinição dos primeiros dias do então novo regime republicano. Eram tempos de transição: à falta de hino próprio, cantava-se a Marselhesa em cerimônias oficiais; bandeiras diferentes competiam para tomar o lugar da bandeira do Império. De todo modo, a atual bandeira nasceu da imperial: mantidos o fundo verde, a esfera azul, o losango amarelo, retirados os símbolos do Império, transferidas as estrelas para dentro da esfera, chegou-se à bandeira que hoje temos.
Quero dizer que a bandeira ali da esquina me incomoda. Ela me passa a sensação de um Brasil desbotado, menos vigoroso, imagem de homens públicos que não têm primado pela correção naquilo que fazem. Aquela bandeira rota tem algo de profundo, de triste, de resistência. Parece estar ali para dizer que a Copa não foi vencida, mas que ainda temos força, mesmo combalidos por tanta desfaçatez e desenganos. Nela persiste a fé cega das massas que acreditam em milagres e se deixam enganar pelas falsas esperanças dos hábeis manipuladores que as conduzem.
Amigos, é preciso salvar a bandeira da esquina, devolver-lhe cores vívidas, restaurar a confiança que ela pode infundir nas pessoas que passam.
Futebol e política
A seleção francesa deu vexame na Copa do Mundo e o presidente Sarkozy decidiu interferir. Sobre esse assunto o jornalista Gilles Lapouge escreveu em matéria publicada na edição do último sábado, em “O Estado de São Paulo”:
“O presidente sabe que os resultados de uma Copa do Mundo de futebol têm influência na política. Em 1998, quando a França derrotou o Brasil, a taxa de popularidade do então presidente Jacques Chirac subiu 15%. A Copa também influi na economia. Ruben van Léeuwen e Charles Kalshoven já provaram que um país cuja equipe conquista a Copa do Mundo contabiliza um aumento de 0,70% do seu Produto Interno Bruto (PIB)”.
Esses dados não são nada desprezíveis. No Brasil, o presidente da República conta com um índice de aprovação de cerca de 80%. A vitória da seleção brasileira na Copa que está se realizando na África do Sul é de interesse imediato do governo. Considere-se, ainda, que o presidente tirou da manga uma candidata à sua sucessão e as pesquisas atuais demonstram que ele está conseguindo transferir a sua imensa popularidade a ela. Do que se conclui que a vitória da seleção na Copa poderá influir – e muito- no resultado das próximas eleições.
Mas, tudo isso são hipóteses o que não significa que venham a se realizar. Em todo caso, a candidata do presidente já está à frente nas pesquisas e a oposição anda perdida quanto às estratégias a adotar para inverter o rumo das coisas.
Seria o caso de dizer que os eleitores de José Serra deveriam torcer contra a seleção brasileira na Copa do Mundo?