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Violência pela violência

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violancia-pela-violanciaVocê viu as imagens de brigas e desordem nas imediações do estádio do Pacaembu após o final do jogo entre o Corinthians e o Flamengo?

Dentro do estádio correu tudo bem. Mas, a derrota do Corinthians irritou parte dos torcedores que saíram preparados para arranjar encrenca. Confusão armada, torcedores do mesmo time brigaram entre si e atacaram a polícia, atirando pedras. Em resposta vieram as bombas de efeito moral que emprestaram colorido próprio às lamentáveis cenas.

O triste foi constatar as reações de parte do público que, a todo custo, procurava safar-se da arena de luta. Pais carregando crianças chorosas no colo, senhoras assustadas, enfim torcedores pacíficos a quem é roubado o direito de frequentar estádios de futebol sem colocar em risco a si próprios e suas famílias.

Mas o que impressiona mesmo é a prática da violência pela violência. Percebe-se que acontecimentos como os de ontem nada têm de ocasional. Trata-se de pessoas que encontram prazer na prática de atos violentos e buscam o confronto, talvez como forma de realização pessoal. Parece existir nessas pessoas a necessidade imperiosa de extravasar energias negativas, daí entregarem-se a situações de alto risco com as quais, aliás, não se incomodam. A impressão que temos é que para os homens em luta não existe amanhã, nem contam as possíveis consequências. Mesmo a morte será um acidente de percurso, talvez de glorificação. É por essa razão que as áreas externas dos estádios de futebol tantas vezes assumem o papel de arenas onde feras medem forças, apenas por medir. Contribuem para a afirmação anterior as notícias de torcidas contrárias que marcam brigas pela internet. Não se trata dos jovens desajustados, contrários às normas da sociedade, verdadeiros desertores sociais como aqueles dos filmes sobre a juventude do pós-guerra, tão bem representada nos personagens vividos por James Dean. Aqui as coisas se direcionam mais para o espírito dos homens que se reúnem para medir forças e exercitar a violência, como se viu no filme “Clube da Luta”.

Os distúrbios da noite de ontem tiveram o final de sempre: uma centena de corintianos foi parar numa delegacia, após brigas, destruição de vitrines de lojas etc.; um ônibus com torcedores do Flamengo foi parado e nele foram encontradas armas, pedras, porretes e outros materiais bélicos. Por essa razão, também esses foram parar num Distrito Policial.

No fim todos voltaram para as suas casas. Muito em breve nós poderemos vê-los, mais uma vez, em ação. Não importa se o time para o qual torcem venha a ganhar o perder o seu próximo jogo. O que vale é a discórdia, a sede de luta, a paixão pelo quebra-quebra, o desafio à polícia, talvez a busca de uma forma de heroísmo cujo significado nos escapa.