corrupção no país at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para ‘corrupção no país’ tag

Os alvos

escreva o seu comentário

Atravessa-se a era dos alvos. A todo transe investigações identificam alvos de desvios de grandes somas de dinheiro. Na esteira das identificações seguem-se operações como as de busca e apreensão em domicílios e mesmo prisão dos envolvidos.

As operações da Polícia Federal entraram na moda com a deflagração da Operação Lava-jato que desnudou desvios gigantescos de dinheiro em negócios escusos envolvendo a Petrobrás. Muita gente se beneficiou desses dinheiros, sendo encontradas contas no exterior pertencentes a conhecidos funcionários da estatal e membros da classe política. De lá para cá atos de corrupção em outros meios como governos estaduais e prefeituras têm vindo à luz. Afora negócios escusos de toda sorte como a impressionante falta de caráter ao desviar recursos nas compras de aparelhos respiratórios necessários à ventilação pulmonar de pessoas infectadas pelo vírus Covid-19. Nunca é demais lembrar que a pandemia já matou mais de 80 mil pessoas no país, até agora, e o número de infectados chega a dois milhões.

Bem, todo mundo sabe disso. Entretanto, para além desses fatos o que mais nos surpreende é a verdadeira maratona de pessoas, conhecidas publicamente, que são acusadas de desvios de grandes somas de dinheiro. Políticos de longa carreira no exercício de cargos públicos da noite para o dia têm seus nomes manchados por denúncias de corrupção. Pessoas a quem considerávamos intocáveis são denunciadas publicamente, cabendo a elas defender-se. Infelizmente grande parte dos investigados acabam sendo condenados e muitos até o momento cumprem penas em presídios. Louve-se a Operação Lava-Jato pela devassa realizada na qual foi desarticulada grande cadeia de corrupção.

Mas, ao contribuinte, resta a estranha sensação de que ninguém merece crédito. Confiança em crise e a impressão de que não adianta votar em ninguém. Mudam os governos e os homens, permanece o fantasma da corrupção. Escândalos inadmissíveis surgem à luz do dia como esse da semana passada em que foram localizados, numa operação de busca e apreensão, seis milhões de reais em dinheiro vivo. Seis milhões, simplesmente. Enquanto isso o homem comum, seja lá qual for o estrato social a que pertence, segue na luta para equilibra-se na corda bamba que é a rotina das oscilações da maltratada economia do país. Nos altos escalões, aqueles que decidem, imperam regras nas quais sempre transparece a hegemonia de interesses pessoais sobre a obrigação de agir pelo bem-estar comum.

Por fim fica-nos a pergunta sobre a natureza de homens em que é depositada a confiança de milhões de pessoas e, de repente, surgem com alvos de corrupção. Ao trabalhador assalariado, aos empresários que têm de honrar seus compromissos, a todo mundo enfim, como engolir desfaçatez de tão grande tamanho?

Que futuro nos aguarda?

No tempo das denúncias

escreva o seu comentário

Um amigo, esquerdista convicto, me diz que, se pudesse, mudaria para o Uruguai. O problema está em que diz isso. Não se trata de revolucionário de última hora, nem desses que professam ideologias em acordo com o momento e necessidades pessoais. Trata-se de alguém fiel aos seus princípios, homem que depositou sua fé num partido e agora se sente enganado, decepcionado. Para ele o “Fora Temer” é válido. A única solução para o país seriam eleições gerais e um acordo em todas as áreas. Todo mundo perderia um pouco, mas o país se elevaria, superando a recessão.

Pergunto a ele se pensar num acordo geral com perdas em todas as áreas em prol do bem comum não seria utopia. Ele me responde, perguntando o que, afinal, espero do governo Temer. Digo a ele que talvez o Meireles consiga melhorar um pouco a economia e isso já seria muito, evitando a derrocada de empresas e empregos. Ele ri e me chama de inocente por acreditar numa solução neoliberal. Enfim, para ele não há solução à vista.

Vivemos num tempo de denúncias, acusações, cassações, prisões, delações etc. Fatos históricos se repetem na mesma semana como, aliás, afirmou uma comentarista na televisão. Marchas e contramarchas, acusações e desmentidos, propinas, escândalos, corrupção. Que língua é essa que se fala hoje no Brasil?  Palavras do gênero tornaram-se de uso comum. No elevador do prédio vi um menino dizer a outro que só o ajudaria no dever de casa se recebesse uma propina. O mal se banaliza.

O amigo me pergunta sobre desde quando o mundo em que vivemos ficou assim. Digo que essa confusão vem desde a época do Sarney. De modo algum torceria pela volta dos militares, embora me veja obrigado a aceitar que, pelo menos, se passavam por mais sérios que a turma de hoje. Ele ri, mas concorda embora com todas as ressalvas que bem conhecemos.

Entretanto, para o amigo tudo o que vemos hoje começou mesmo em 1500. Desanimado confessa acreditar que o problema talvez seja de natureza dos homens, quem sabe de origem genética.

Não chego a tanto. Quem sabe Deus é mesmo brasileiro e, dia desses, acabe se apiedando de nós. Seria um bom começo.