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Steve Jobs
Steve Jobs morreu e o mundo parou para reverenciá-lo. Aqui e ali uma ou outra voz discordante, afirmando que incensou-se demais o grande inovador da Apple. O interessante é que a morte de Jobs despertou reminiscências envolvendo o espetacular avanço dos computadores nos últimos anos. Muita gente parou para contar a sua história, daí me animar a algumas linhas sobre as minhas incursões no terreno das máquinas.
Melhor começar dizendo que jamais consegui ser um datilógrafo. Meus dedos sempre foram rebeldes a trabalhar em conjunto. Essa coisa de datilografar, cada dedo por si, um omitindo do outro aquilo que está fazendo, definitivamente revelou-se impossível para mim. Assim mesmo comprei uma Remington que deve ter se arrependido de me ter como proprietário dela. Deu no que deu: jamais consegui uma página sem erro, limpa, sem borrão.
Da máquina de escrever ao computador. Quando ouvi falar sobre computadores e editores de texto fiquei animado. Cansara-me de escrever páginas e páginas com a minha adorada Parker 51 e pareceu-me que um computador seria a solução. Mas, nessa época os computadores pessoais estavam apenas nos seus primórdios. Ei, não faz tanto tempo assim! Estávamos na segunda metade da década de 80 do século passado. Essa turma nova que usa IPods simplesmente não é capaz de imaginar que há menos de 30 anos o mundo passava muito bem sem bons computadores, internet e tudo o mais. Vai daí que comprei um CP500 que rodava com disquetes enormes e de muito baixa capacidade de armazenamento. Como não sabia bem o que fazer com o CP500 entrei num curso de programação em BASIC que, na verdade, não me serviu para nada. Nessa época o editor de texto mais popular chamava-se WORDSTAR o qual, obviamente, não tinha versão adaptada para o português. Era possível, sim, acentuar as palavras na tela, para isso utilizando-se alguns comandos que exigiam a ação conjunta de vários dedos. Se bem me lembro, o acento agudo era obtido digitando-se CTRL+P+H. O cedilha, então, conseguia-se através de uma nebulosa combinação de teclas. Mas, o pior não era isso: o mais terrível era a impossibilidade de imprimir o texto acentuado nas impressoras matriciais. As impressoras à Laser ainda estavam por vir.
Dois fatos importantes: a reserva de mercado do Brasil que durou até os anos 90, impedindo a importação de componentes de computadores; e a entrada da Microsoft na parada. Eu já possuía uma PC XT quando a Microsoft lançou o WORD para DOS – a plataforma WINDOWS não passava, nessa época, de um embrião. O WORD foi comercializado no Brasil e já era possível acentuar as palavras em português. O problema era que, para imprimir, faziam-se necessários drivers que compatibilizassem o produto com as impressoras matriciais. Para variar a Microsoft não disponibilizou drivers para a maioria das impressoras em uso no país. Mais uma vez eu podia escrever, mas, não imprimia nada do que escrevia.
Para encurtar a história, demorou muito para que as coisas se resolvessem. Quando apareceram os computadores com a plataforma Windows deixamos para trás os programinhas em DOS e as coisas começaram a ser o que são hoje.
Uma das versões do WORD para DOS que funcionava bem era a versão 5. Escrevi muita coisa com o WORD 5 e salvei tudo em disquetes. Com o tempo as novas versões do WORD deixaram de ler a antiga versão. Quando me apercebi disso não tinha mais como recuperar os antigos trabalhos, aprisionados em disquetes que, por fim, se deterioraram.
Muita gente perdeu textos, eu perdi uma montanha deles. Na verdade acho que a perda foi providencial: os computadores engoliram algo que não me serviria para nada, melhor pensar assim.
As linhas anteriores são apenas um resumo da minha persistência com computadores. Tenho certeza de que isso tudo aconteceu a muita gente daí nenhuma novidade existir no meu relato. Entretanto, vale dizer que a soma de todas as experiências pessoais serve como testemunho de uma história. Incomoda-me que as gerações mais recentes aceitem os avanços tecnológicos como algo que sempre existiu, algo “muito normal que já nasceu pronto”. É aí que entra um cara como o Steve Jobs que maquinou na cabeça dele toda essa coisa e interferiu diretamente no modo como trabalhamos e processamos a informação. Do que se depreende que são muitas justas as homenagens que fazem a ele no momento em que se mandou desta para a melhor.
Armazenamento de informações
Não faz tanto tempo assim eu escrevia em folhas sem pauta com letra que me obrigava a passar a limpo os textos finalizados. Nunca me dei bem com máquinas de escrever, embora naqueles idos tenha comprado uma Remington que, a bem da verdade, usei muito pouco.
Entrei no mundo dos computadores pessoais com um CP 500 da Prológica, peça que hoje causaria algum espanto se comparada aos computadores que conhecemos. Os disquetes eram grandes, flexíveis e armazenavam muito pouco. Tentei usar o CP 500 para escrever, mas não conseguia acentuar as palavras. Naquele período a Microsoft estava às turras com o Word e o que se tinha por aqui era um processador de textos chamado Wordstar.
Do CP 500 passei a outro computador da Prológica - é preciso lembrar que com a reserva de mercado imposta pelo governo militar computadores importados eram raridade. Em função disso desenvolveu-se um mercado paralelo no qual eram vendidos computadores montados com peças entradas clandestinamente no país. Os XT- depois AT – custavam caro.
Quando passei a usar o Word tive problemas. Comprei uma versão do Word 5.0 para DOS - o Windows era então só uma promessa – e fiquei muito feliz porque via na tela verde do monitor as palavras acentuadas. Entretanto, o mesmo não se via no texto impresso: a Microsoft não providenciara drivers para boa parte das impressoras usadas no Brasil, entre elas a minha.
Do que me lembro bem é que, há não muito tempo, tudo era armazenado em HDs de pequena capacidade e disquetes. Foi por confiar num desses HDs que perdi um livro inteiro, escrito a quatro mãos com um amigo. Tratava-se de uma pesquisa que fiz no interior da Bahia, região de Canudos, sobre a tradição oral em relação a assuntos da guerra acontecida na região, em 1897. Tudo perdido por uma pane do HD e, pior que isso, pela inexistência do backup que o descuido me impediu de fazer.
De disquetes para CDs de 700 K, deles para DVDs com capacidade de armazenamento de 4,7 gigabytes. Os HDs de 500 gigabytes a 1 terabyte tornaram-se comuns. E chegamos ao blu-ray capaz de armazenar 25 gigabytes. Maravilha, não? Dias atrás adquiri um gravador de blu-ray e gravei num só disco quase 25 gigabytes de arquivos. Incrível.
A cada dia são armazenados bytes e mais bytes de informações. Dados de 2007, publicados pela revista Science, mostram que poderiam ser armazenados 295 exabytes - trata-se do número 298 seguido por dezoito zeros, equivalente a 295 bilhões de gigabytes.
Como não poderia deixar de ser esses números foram comparados com o DNA humano. A molécula de DNA possui informações codificadas através de um sistema que envolve a sequência de bases nitrogenadas – adenina, guanina, citosina e timina. A partir dessas quatro bases podem ser formadas quase incontáveis combinações, de todo modo em número muito superior ao que os atuais meios de armazenamento – CDs, livros, DVDs, HDs, blurays etc – são capazes de guardar. Segundo os cientistas o DNA humano armazena cerca de 100 vezes mais informações que todo o sistema de armazenamento ao alcance dos seres humanos.
Mas, a ciência progride e meios de armazenamento mais eficazes e poderosos tendem a surgir no futuro. O que me devolve aos velhos disquetes dobráveis, tão sensíveis e que surgiam como uma novidade impressionante. Obviamente, não viverei o suficiente para ver no que isso tudo vai dar. A nanotecnologia e a física de partículas permitem a construção de meios cada vez mais compactos e poderosos de armazenamento e encontram-se em plena evolução.
Para o mortal comum ficam as sempre benvindas notícias sobre novidades. Pena que tudo custe tão caro, daí que continuo com o meu notebook, um Pentium Core-2-Duo, sonhando com um processador I7. Acontece que fui informado que os processadores I7 são vários, variando em velocidades de processamento. Para piorar – ou melhorar – li que está sendo lançada a segunda geração de processadores I7, daí que percebi que essa coisa toda não tem fim e passei a achar o meu Core-2-Duo muito bom e ponto final.