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J. Edgard
Se há uma coisa que sempre fica em filmes que envolvem a participação do FBI é que essa instituição está sempre do lado certo, do lado da lei. De certo modo isso prevalece neste J. Edgard, dirigido pelo cineasta Clint Eastwood.
No filme Leonardo DiCaprio interpreta o poderoso chefe do FBI J. Edgard Hoover que esteve à frente da instituição durante o governo de oito presidentes norte-americanos. Hoover é o FBI o qual criou à imagem de suas neuroses de organização que acabaram por se tornar muito úteis e ainda hoje são utilizadas pelas polícias em todo o mundo. De fato, foi Hoover quem implantou a identificação de pessoas pelas impressões digitais e tornou comum o cuidado com os detalhes nos processos de investigação. Além disso, Hoover sempre esteve atento aos caminhos do poder do qual fez parte, muitas vezes contrapondo e influindo na vida política norte-americana.
O J. Edgard do filme apresenta-se em duas épocas de sua vida: em ação enquanto mais jovem e, mais tarde, já na década de 1960, quando se dedica a contar a sua história a datilógrafos que a escrevem. Para essas aparições em épocas distantes DiCaprio é transformado través de processo de maquiagem que o envelhece. Pode-se dizer que o envelhecimento de DiCaprio deu certo o mesmo não acontecendo com o de sua secretária – Helen Gandy interpretada por Naomi Watts – e do inseparável companheiro de Hoover – Clyde Tolson vivido por Armie Hammer.
J. Edgard não é um filme de ação. Ao contrário, a intenção do diretor Eastwood mais parece ser a de aproximar-se o máximo possível da psicologia e modo de ser do homem que à frente do FBI influenciou por décadas a vida norte-americana. É assim que, ao par com as atividades de Hoover à frente do FBI, surge o rapaz sempre impulsionado pela mãe que desde pequeno o estimula a tornar-se um homem importante; e o adulto que não se casa e mantém uma relação jamais explícita, mas que sugere homossexualidade, com o seu braço direito no FBI Clyde Tolson. É esse homem complexo, torturado pela possibilidade do crescimento do comunismo nos EUA e eterno adversário do crime que Eastwood nos apresenta. utilizando uma fotografia nem sempre clara, mas propícia a um tipo de filme no qual as palavras têm mais peso que os cenários.
Os mais jovens talvez não tenham ouvido falar de J. Edgard Hoover que morreu na década de 1970 e está enterrado em cova ao lado de Tolson. Entretanto, a figura de Hoover e o próprio FBI mantêm-se bem vivos na memória dos que acompanharam, ainda que de longe, as atividades do homem e da instituição que comandou e fez crescer.
J. Edgard é um bom filme que não chega a ser excelente dada certa morosidade da narrativa. Entretanto, introduz o espectador no complexo mundo do poder norte-americano através da vida de uma das suas mais marcantes personalidades.