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Formas de violência
Li um artigo no qual se destacam as diferentes formas de violência. O articulista diz que, em geral, nos preocupamos com a violência cometida por marginais, em atentados etc. Entretanto – adverte-nos – a pior forma de violência é aquela cometida por pessoas que de repente tornam-se agressivas e agem irracionalmente. E isso é muito comum hoje em dia.
Existe um desenho antigo da Disney muito ilustrativo: um homem calmo e educado sai de casa e encontra um inseto em seu trajeto; bondoso ele ajuda o inseto a transpor um obstáculo e segue feliz, de bem com a vida. Isso dura até o momento em que ele se senta defronte o volante do seu carro. Nesse instante a fisionomia do homem se altera e, daí por diante, ele se comportará como um louco no trânsito, extremamente agressivo e vingativo.
Dias atrás foi noticiado que um delegado de polícia teria agredido a um cadeirante. O delegado foi afastado de seu cargo e a ocorrência está sendo apurada. Caso a versão que circula sobre o fato seja verdadeira é de se perguntar o que leva uma pessoa a uma agressão tão impensada. Há, sim, pessoas com problemas físicos que fazem uso de sua condição, às vezes indevidamente. Num dos cruzamentos que fazem parte da minha rota para o trabalho fica um deficiente que faz questão de atrapalhar o trânsito. Numa rua onde passam no máximo dois carros, posta-se ele numa das mãos, obrigando todo mundo a se desviar dele. Isso pode até irritar a algumas pessoas, mas daí a uma represália ou agressão existe um espaço mais ou menos igual à distância da Terra à Via Láctea.
De fato, a violência pode ser cometida de várias formas, sendo que os que a praticam parecem não se dar conta da hediondez de seus atos. Há poucos dias foi preso um homem de 64 anos de idade que mantinha, há dezesseis anos, a mulher dele em cativeiro. O cárcere privado localizava-se no porão da casa onde o homem vive com outra mulher. A polícia, chamada por vizinhos, encontrou a mulher trancafiada num cômodo escuro; estava nua e dormia sobre uma cama de alvenaria. Interrogado sobre a razão de manter a própria esposa presa o homem explicou tratar-se de doente mental que não poderia ficar livre. Por várias vezes tentara interná-la: não conseguindo apelara para o cárcere privado.
Uma mulher vive presa num porão em condições sub-humanas. Agora se sabe que os filhos dela tinham conhecimento do fato e concordavam com a atitude do pai. Aliás, por essa razão estão sendo indiciados. O fato, em si aterrador, leva-nos a muitos questionamentos. Afinal, a partir de que momento os envolvidos passaram a achar “normal” o procedimento adotado para “resolver o caso”?
A gama de temperamentos humanos é vastíssima. Conheci e conheço pessoas ponderadas e muito educadas capazes de se transformarem em verdadeiras feras quando contrariadas. Assisti e assisto a momentos de explosão de pessoas de temperamento muito quente, em geral movidas por razões de pouca importância. Diariamente observo, no trânsito, ao embate de mentalidades dispostas a não ceder um só milímetro do espaço que julgam de seu direito. Trata-se de formas de violência que geralmente não valorizamos, mas que podem ter consequências imprevisíveis.
Está preso, em Curitiba, um coronel aposentado que chefiou o Corpo de Bombeiros daquela capital. Há poucos meses o coronel perdeu um filho, assassinado por traficantes quando estava na direção de seu carro. Depois disso, nove pessoas ligadas ao tráfico foram assassinadas e o coronel está sendo acusado por essas mortes. Ele nega, mas testemunhas afirmam que não há dúvidas quanto à autoria dos crimes.
Os crimes do coronel, caso confirmados, inscrevem-se na galeria de ocorrências inesperadas. Um homem de reputação ilibada de repente decide fazer justiça com as próprias mãos. Foi o que disse o delegado que cuida do caso, embora afirmando que ainda se está em fase de inquérito.
Os casos citados anteriormente reforçam o princípio de que a violência é injustificável. Entretanto, há que se ter cuidado para que o estresse diário não nos leve a agir irracionalmente.