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Notícias da manhã
Ventou muito durante a madrugada. Os ventos chegaram do Sul com violência diminuída, mas ainda muito fortes. Fizeram barulho, arrancaram telhas de casas, arremessaram-se contra as janelas.
Os noticiários da manhã começaram com informações sobre o vento e a chuva. Em Porto Alegre trinta postes de iluminação caíram e bairros estão sem luz. Em Santa Catarina a chuva agravou ainda mais a situação de municípios que já sofriam com inundações.
As imagens de destruição vêm de toda parte. Na Indonésia um terremoto provocou uma avalanche que vitimou várias pessoas. Uma câmera de vigilância gravou imagens de pessoas desesperadas correndo para fora de um hotel que começava a desabar. Nem todos conseguiram sair e agora procuram-se vítimas nos escombros do hotel completamente destruído.
Você dormia enquanto tudo isso acontecia, incomodado com os uivos do vento e o barulho das venezianas batendo.
Durante o café da manhã, mais notícias chegam. Agora já não se fala sobre vento e chuvas, mas sobre filiações partidárias. É chegada o momento dos puxadores de voto filiaram-se a partidos garantindo votos para as legendas. É bom lembrar que dos mais de 500 deputados federais eleitos no último pleito apenas 40 venceram às custas dos votos que receberam. Os demais se beneficiaram dos votos das legendas. Por essas e outras o ex-jogador Romário filiou-se a um partido. Aconteceu que ele pretendia filiar-se ao PSDB, mas por descuido filiou-se ao PSB. O erro fica por conta da semelhança das siglas já que provavelmente o ex-jogador não estava se filiando a um partido por razões ideológicas.
Você vê tudo isso na televisão enquanto se prepara para sair de casa e enfrentar o dia de trabalho. Até aí mesmo os absurdos parecem normais porque se tornaram cotidianos. O mundo é irremediavelmente absurdo e parece que nada existe para se fazer a respeito. Você já nem pensa mesmo em fazer alguma coisa porque se sente impotente para mudar o rumo do que quer que seja.
Está assim, entre animado e desanimado, mais para conformado com o rumo inexorável das coisas quando vê, na telinha da televisão, um trator em meio a uma plantação de laranjas. São inúmeras pequenas árvores enfileiradas que vão sendo abatidas, uma a uma, pelo trator.
O mundo é absurdo, mas o que você está vendo é irracional demais, não tem sentido. Você pensa no trabalho de pessoas para fazer a plantação e a destruição pura e simples de tudo consegue finalmente abalar o seu conformismo. Você não vai à janela para gritar, não esmurra a parede. Entretanto aquilo rompe momentaneamente a sua relação de racionalidade com o mundo.
Você está assim, indignado, quando ouve o locutor dizer que se trata de um trator do MST derrubando a plantação em mais uma manobra de ocupação.
Você não ouve o fim a notícia. As explicações simplesmente não interessam e você desliga a televisão com um safanão.
Saindo para trabalhar encontra no elevador uma criança que sorri e o leva a ponderar sobre porque o mundo é assim, porque tudo é tão mal feito.