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Ô Geraldo…
Porque amanhã é o Dia da Mulher eu me lembrei do Geraldo, melhor dizendo da mulher do Geraldo. Nem é preciso perguntar qual Geraldo porque o Geraldo a que me refiro foi homem como tantos outros, talvez seja mais adequado afirmar que neste Geraldo em particular existem pedaços de todos nós, os homens, com suas idiossincrasias, seus diferentes, mas tão próximos modo de ser.
Conheci a mulher do Geraldo ainda mocinha, bonitinha que nem ela só. Atraía o olhar dos rapazes, na verdade mais que o olhar, se bem me explico. Era desses protótipos em transformação para algo completo, a forma quiçá perfeita da mulher madura que a todos encanta e apaixona.
Mas, a mulher do Geraldo tinha nascido para ser a mulher dele que era um sujeito alto e forte, bonitão, cabelos castanhos avizinhando o aloirado, olhos espertos e um rosto bonito no qual não faltavam sinais de muita bonomia.
Foi assim: um dia os olhos dos dois se encontraram e nasceu entre eles algo ainda maior que a simples atração, isso que se chama amor. Namoraram, ficaram noivos e se casaram. Naturalmente os machos de plantão invejaram a boa sorte do Geraldo que se aninhara com um mulherão daqueles, mas no fundo a coisa foi bem aceita porque o Geraldo era sangue bom, amigo dos amigos, tipo solidário desses que merecem a sorte que têm.
E ai tudo estaria muito bem e ordenado não fosse a maldade que mora nas coisas benfeitas, essa maldade que parece ter prazer em desenfeitar as coisas boas e belas. Ocorreu, então, que o Geraldo seguiu com a mulher dele para a viagem de lua de mel. Entretanto, passados apenas dois dias, eis que voltou ele, sem a mulher, sozinho.
Ninguém teve coragem de perguntar ao Geraldo sobre o que teria acontecido. Ele deixou de ser o rapaz bem afeiçoado e há quem garanta que nunca mais sorriu na vida. Tempos depois se soube que a mulher do Geraldo vivia em outra cidade em casa de parentes e, depois disso, nunca mais se ouviu falar dela.
É nesse ponto que eu entro na história. Na época do casamento do Geraldo eu não passava de um rapazote e, naturalmente, minha curiosidade foi aguçada pelo episódio. Depois me esqueci do fato como de resto esqueceram-se os demais. Até que em certa ocasião, acho que quase vinte anos depois, parei num restaurante localizado na Via Dutra e eis que lá encontrei justamente o Geraldo. Fiquei alegre ao vê-lo e logo nos sentamos para um longo papão. Pois foi no meio da conversa que sucumbi à antiga curiosidade e perguntei ao Geraldo sobre o que tinha acontecido durante a lua de mel dele.
Obviamente o Geraldo negou-se, a princípio, a responder, mas no fim acabou me confessando que, na primeira noite de casado havia constatado que a mulher dele não era virgem. Esse fato o magoara muito e para ele era inadmissível casar-se com mulher desonrada por outro homem. A tragédia o afetara tanto que não só abandonara a mulher como nunca mais se casara.
Eram outros tempos, não? Outros valores e modos diferentes de encarar a vida. Despedi-me do Geraldo a quem nunca mais vi e cuja morte aconteceu anos atrás. Mas, confesso que tive a impressão de que ele jamais deixou de amar aquela moça bonita com que se casara, mas de quem se afastara por ela não ser virgem.
Era uma boa moça, muito bonita, só não era virgem. Ô Geraldo …
O Dia da Mulher
Acabo de cumprimentar uma amiga pela passagem do Dia Internacional da Mulher. Ela sorriu, olhou meio desconfiada e disse:
- O Dia da Mulher é todo dia.
Todo mundo sabe ao que ela se referia. É comum que mulheres olhem para nós, homens, como tarefas a cumprir. Em suma: homem é um tipo útil para muita coisa, mas dá trabalho.
Isso vem de longe, de um acerto hierárquico anterior, convenção que dizia que mulher deve se encarregar de tarefas caseiras, ficando para o homem os cuidados com a sobrevivência da família etc.
Imagino o horror das feministas ao ouvirem uma coisa como a escrita no parágrafo anterior. O mundo mudou faz tempo, a mulher é outra e a histórica dependência do homem vem sendo revertida. Hoje muitas mulheres comandam o seu próprio destino, inúmeras ocupam postos de chefia no mercado de trabalho e há de chegar o dia em que existirá de fato uma equiparação salarial com os homens.
De que o perfil das mulheres mudou muito nas últimas décadas – e para melhor – não restam dúvidas. Infelizmente, porém, não se trata de uma verdade universal. Quando se toma o Brasil, por exemplo, em seu aspecto integral, verifica-se que para uma imensa maioria de mulheres os bons tempos ainda não chegaram. Elas continuam muito próximas da condição anterior, dependentes de seus maridos e enfrentado a barra por conta da segurança dos filhos. Vigora a dominação masculina que muitas vezes se torna opressiva, segundo informam várias pesquisas e artigos frequentemente publicados na mídia. Note-se que os problemas tornam-se mais dramáticos quando se verifica diminuição da renda. Além disso, não há que se ignorar o fato da existência de alguns milhões de domicílios chefiados por mulheres a quem cabe a educação dos filhos e o direcionamento deles na vida.
Por essas e muitas, muitas outras, o Dia Internacional da Mulher é muito bem-vindo. Trata-se de uma data especial criada para homenagear pessoas que realmente merecem.
Também é um bom dia para nos lembrarmos das gerações de mulheres das nossas famílias, muitas delas já ausentes, mas que marcaram fecundamente sua presença em nossas vidas. Breves momentos de recordação nos devolverão avós, tias, mães, irmãs, cunhadas, sobrinhas, um verdadeiro exército de saias que povoou e povoa o universo dos nossos dias.
Às mulheres que já se foram, saudades, muitas saudades; às que continuam conosco um abraço forte, muito forte e parabéns pelo dia que as homenageia.