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Lidando com a dor
Para certo tipo de dor não há remédio. Nunca acreditei na frase anterior. Para mim para tudo existe, senão remédio, pelo menos uma saída. Pessoas que atravessam crises ficam com a vista turva e muitas vezes não enxergam possibilidades de sair da situação em que se encontram. Há os que se desesperam ao limite. Há os que se matam. Cada pessoa reage a seu modo em situações de stress prolongado. Também existem os robustos, os fortes. Mas, mesmo esses… Hemingway dizia que a vida dobra qualquer um, mesmo aqueles que continuam fortes nas partes dobradas.
Hoje é o dia de Finados. Fui ao cemitério e vi muita gente levando flores para seus entes queridos. No pátio um padre rezava missa assistida por uma multidão. As pessoas rezavam. As pessoas acreditavam que a vida nada mais é que curto período, parte de existência eterna. O padre dizia que a vida é provação. As pessoas balançavam a cabeça, concordando. Assim, chegará o dia em que cada um deixará este mundo e se unirá aos mortos pelos quais hoje chora. Resta-nos aceitar o compromisso assumido com a vida e a essência da própria morte.
Aceitar! Pensei naqueles que não possuem fé, nem mesmo crença. Terá para eles a vida o mesmo sentido encontrado pelos crédulos? Não sei. Deixei o padre e a multidão que orava. Segui pelos corredores até chegar ao meu destino. Era uma gaveta como as outras, com as inscrições de costume, data de nascimento, data de morte. Lá dentro… Lá dentro ela a quem acompanhei na terrível batalha perdida pela vida. Repassei cada instante de nossa trajetória em médicos, hospitais, curandeiros e toda sorte de ações que resultaram em vão. Revi os derradeiros dias dela no leito do hospital, segurando-se ao mundo quando nada mais havia a se fazer. Ouvi os gemidos dela na última noite e o barulho deles de repente tornou-se ensurdecedor.
Chorei copiosamente. Entendi que para certo tipo de dor realmente não existe remédio.
Sai do cemitério perguntando-me sobre, afinal, o verdadeiro sentido da vida.