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Em tempos de flagelados fantasmas
Não adianta: continuamos assombrados pelos fantasmas do futebol. A seleção perdeu e, três dias depois, a mídia escrita não trata de outra coisa. Há, sim, um esforço para retornar às manchetes sobre economia e assuntos políticos. Mas, a coisa anda devagar. Dunga ainda está entranhado nas goelas dos brasileiros, não desce de jeito nenhum, vai ser difícil digeri-lo, tirar a imagem dele da memória.
Agora, mais que nunca, o autoritarismo de Dunga vem à tona e o insucesso é explicado pela política de reclusão dos jogadores, imposta pelo técnico. De repente o escondido Jorginho, o auxiliar de Dunga, é retirado das sombras e se fala sobre a traição dele ao grupo por ter trazido sua família à África do Sul, contrariando tudo o que pregava ao grupo.
Os jogadores da seleção chegaram ao Brasil hoje e não foram bem recebidos. Ninguém entende o descontrole emocional daquele segundo tempo contra a Holanda e pede-se socorro aos psicólogos de plantão: deve existir uma explicação para tanta desgraça ocorrida num lapso de 45 minutos que se eternizam nas nossas memórias.
Querendo fugir dos fantasmas do futebol – por favor, inventem outra coisa para que esqueçamos a Copa – dou de cara com os flagelados fantasmas. Quem são eles? Trata-se de gente que está se aproveitando da tragédia provocada pelas chuvas em Alagoas. De repente, na destruída cidade de Palmares, aparecem pessoas de outros lugares que se infiltram nos abrigos dos verdadeiros flagelados para compartilhar da ajuda que esses vêm recebendo.
Tempos diabólicos esses, não? Fantasmagóricos mesmo. Seria engraçado não fosse horrível.
Dunga, flagelados fantasmas, ora…
A Trilogia Dunga
Já vimos “A Identidade Dunga” manifesta em entrevistas – algumas infelizmente lamentáveis - e atitudes. No momento assistimos ao segundo filme da série cujo título é “A Supremacia Dunga”. O roteiro não foge ao esperado: do alto comando do técnico da seleção brasileira emanam decisões como a da reclusão dos atletas, entrevistas apenas com porta-vozes ensaiados, restrições ao acesso do público e imprensa, enfim tudo o que é preciso a quem se prepara para enfrentar uma guerra.
Estamos diante de um curioso caso de retrocesso. À divulgada anarquia que cercou a passagem da seleção na Copa de 2006, parte-se para a linha dura da qual participam principalmente eleitos obedientes. Agora a prioridade nem sempre anda de braços com o talento: dá-se preferência aos mais aplicados. É o imperativo do funcionalismo público no futebol com premiação dos mais cumpridores.
Tudo isso indica que sociólogos e afins precisam trabalhar mais a realidade do país. Um novo painel de atitudes começa a vigorar em vários setores, destacando-se a política e o futebol. Novas regras são ditadas à luz do dia, muitas vezes contrapondo-se a leis. O presidente da República insurge-se contra as leis eleitorais e é seguidamente advertido sem que isso tenha maior repercussão. O técnico da seleção propõe normas arcaicas e parece não importar a ele a desaprovação da imensa torcida brasileira.
Sobre o país de Lula e Dunga pairam novas e desconcertantes luzes. Será assim aquilo a que chamamos de futuro? Deixando de lado a política, a ver o que sucederá no futebol. A Copa está aí e a sorte de Dunga foi lançada. Sem cintura como é o técnico cobrará empenho e vitória, ciente de que deixou para trás o talento de novos jogadores em ascensão, talvez porque falte a eles alguma evangelização.
Copa iniciada será hora do fim da trilogia com o filme “Ultimato Dunga”. O enredo? Ah, só no decorrer da Copa saberemos.
Pobre imensa torcida apaixonada pelo futebol! Mas não duvideis, ó incautos: de repente até pode dar certo porque o país atravessa maré de boa e parece ter força para resistir a tudo.
A convocação da seleção
Aproxima-se a convocação dos jogadores brasileiros que participarão da Copa do Mundo de 2010. Como em épocas anteriores há um frenesi em torno dos nomes que sairão da cabeça do técnico Dunga. A coisa chega ao ponto de se refazerem os passos de Dunga ao longo de sua vida com o intuito de entender porque ele é do jeito que é. Ontem, um jornal de São Paulo publicou extensa matéria sobre o técnico, abarcando desde o seu nascimento em Ijuí até os dias de hoje.
Não se discute o fato de que o futebol é paixão nacional. Mais que isso, a seleção ainda retém certa fantasia de nacionalismo caboclo que chega até ser bem-vinda nesses despersonalizados tempos de globalização e dissolução de fronteiras. Nada pode unir tanto os brasileiros quanto os tais noventa minutos em que a “seleção canarinho do Brasil” entra em campo para combater antigos ranços de inferioridade que hoje, graças a Deus, estão sendo abandonados.
O fato é que a torcida brasileira ainda está doída pelo resultado da última Copa. Se os sentimentos nacionais mantiveram-se intactos o mesmo não aconteceu com a nova geração de jogadores hoje intercionalizados e quiçá desenraizados. Trata-se de pessoas que ganham muito dinheiro jogando em clubes estrangeiros, profissionais demais para o gosto popular. Por vezes eles são tão profissionais que se esquecem do verdadeiro profissionalismo, aquele ligado à representação social do esporte que praticam.
Mas, está chegando a hora da convocação. Quem serão os craques que desta vez defenderão o Brasil? Quem serão os soldados escolhidos para mais essa campanha imarcescível em que as nossas cores estarão em confronto com antigos rivais?
É aí que entra o técnico Dunga, aquele que é como é segundo se diz. Mas, o que não se pode olvidar numa hora dessas é que Dunga, mais que tudo, é técnico e sabemos que essa estirpe tem por norma não agir em acordo com aquela que pode ser considerada a opinião nacional. Quem não se lembra de Claúdio Coutinho, do Lazaroni, do Parreira e tantos outros que permaneceram surdos à opinião geral da torcida brasileira?
Pois Dunga está a um passo de escolher o seu partido: ficar entre os técnicos que ouvem ou os que não ouvem. O país clama pela presença de Ganso e Neymar na seleção, mas Dunga, talvez fazendo-se de mais importante do que já é no momento, não dá nenhum sinal de que cederá nesse sentido. Aliá, a opinião dele é que não seria justo deixar de lado os que concorreram para que o Brasil atingisse o atual estágio em que está; não seria justo ignorar o esforço dos jogadores que classificaram o Brasil.
Futebol é momento, instante de quem está jogando bem. O máximo que podemos desejar é bons sonos a Dunga, clareza nas suas interpretações, menos dureza. Quem sabe ele ouve a multidão e dessa vez o Brasil sai daqui com o time que o povo quer.