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Ê Mazembe
Ê Mazenbe, Ê Mazenbe, Ê Mazenbe…
Ê Mazenbe é o grito da torcida do Mazembe, time do futebol do Congo. Não ouvi esse grito hoje a tarde, durante o jogo do Mazembe com o Internacional-RS. Não ouvi porque a turma do contra não conhece o grito da torcida do Mazembe. O que a turma do contra fez foi soltar foguetes na hora dos dois gols do Mazembe.
Afinal, quem são os caras da turma do contra? Ora, são todos os que torcem contra o Inter, aqueles para quem o clube gaúcho nem deveria estar disputando o Mundial da FIFA.
Houve tempo em que se um time brasileiro jogava contra equipes estrangeiras, as torcidas se uniam em prol da nacionalidade. Tratava-se da valorização do nosso futebol. Deixavam-se as rixas de lado, como se faz numa guerra na qual adversários se unem para defender o próprio país. Aqui aconteceu durante a Revolução de 1894 quando marinheiros, chefiados pelo Almirante Custódio de Mello, bombardearam a cidade do Rio de Janeiro. Por ocasião do episódio, conhecido como Revolta da Esquadra, ocupava a presidência da República o Marechal Floriano Peixoto que passou à história como um sujeito durão, curto e grosso como se diz. Pois, estavam governo e revoltosos em ação guerreira quando a frota inglesa, ancorada no Rio de Janeiro ameaçou intervir, entendendo que o tiroteio prejudicava os negócios ingleses na então capital do Brasil. Nessa hora, grave hora, imediatamente Custódio e Floriano pronunciaram-se, isoladamente, pela defesa do país. Quer dizer: primeiro contra os ingleses, depois voltamos ao nosso quebra-pau.
No futebol também era assim. Imagine se o Botafogo do Rio fosse jogar contra um time estrangeiro: ficava-se do lado do Botafogo. Quando o Santos venceu o Milan naquela célebre final, realizada no Maracanã, em 1963, os cariocas estavam lá, lotando o estádio e torcendo pelo Santos.
Creio que em parte pela globalização que desmitificou barreiras nacionais, em parte pelo Campeonato Brasileiro que intensificou rixas entre equipes de Estados diferentes, hoje em dia tornou-se difícil torcer por um time brasileiro, mormente se ele destaca-se demais. Talvez por isso, hoje tenham mandado para os ares foguetes na hora dos gols do Mazembe. Pelo mesmo motivo viu–se pessoas alegres com a surpreendente derrota do clube brasileiro.
Encontrei agora a pouco o meu vizinho do terceiro andar. Ele é santista roxo, adora o Neymar e conta, em off, que o Santos está recebendo dinheiro da Inglaterra, coisa que, sinceramente, desconheço. Relatou-me o vizinho que torceu para o Mazembe e, depois do jogo, assistiu e ouviu a todas as reportagens. Divertiu-se com o choro dos jogadores do Inter e vibrou com a alegria dos gremistas, rivais do Inter no Rio Grande. Como se vê, o meu vizinho foi fundo. Ele é daqueles que dá o beliscão e depois confere a pele para ver se ficou bem vermelha e dolorida.
Papo entrado em despedida, o meu vizinho perguntou se eu gostei da vitória do Mazembe. Pulei fora, disse que não vi um jogo que, afinal, não me interessava em nada. Logo em seguida chegamos ao terceiro andar e ele saiu do elevador. Então, sozinho e sem ninguém por perto, continuei a minha curta viagem, repetindo baixinho para ninguém ouvir:
-Ê Mazembe, Ê Mazembe.