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Enterro prematuro
Não sei dizer se os jovens de hoje lêem a obra de Edgard Alan Poe. Temo que prefiram os filmes de terror os quais não têm o menor escrúpulo em utilizar clichês. Há sempre uma moça bonita sozinha dentro de uma casa mal assombrada, circulando no escuro, abrindo portas atrás das quais pode encontrar um bem preparado susto. Isso quando a trama não descamba para a violência gratuita coordenada por personagens malignos e dotados de grande poder.
Existem por aí textos de Poe adaptados, resumos que servem para ser utilizados em escolas. A fórmula tem dado certo, os livrinhos vendem e deixam no ar a promessa de que um dia, mais tarde, o estudantes se interessem em ler os textos completos.
É bom que se diga, Poe deve ser lido no original. Existe toda uma magia no modo de escrever desse grande mestre da literatura. Aliás, Poe não é grande por acaso. Não há nesse mundo nenhum autor de histórias de terror que não tenha passado pela obra de Poe. Ele é bem o caso de um escritor que tornou-se referência natural e obrigatória para todos aqueles que se aventuram na arte de contar histórias.
De modo que para falar objetivamente, a obra de Edgar Allan Poe é uma delícia a cuja leitura ninguém deve se furtar.
Um dos grandes contos de Poe é Enterro Prematuro no qual o escritor descreve minuciosamente a terrível sensação experimentada por um homem que foi enterrado vivo. Trata-se de um conto portentoso no qual Poe aborda casos de catalepsia estado no qual uma pessoa permanece aparentemente morta daí vir a ser enterrada ainda viva. Segundo Poe são muitos os casos de esquifes que abertos tempos depois da morte mostram esqueletos em posição diferente daquela em que foram levados ao túmulo.
Lembrei-me do conto de Poe ao ler hoje pela manhã sobre um homem que foi enterrado vivo num cemitério do interior. Estava ele coberto apenas com terra e lutava para sair da cova quando foi descoberto por pessoas que visitavam o cemitério. Ajudado a sair da cova o quase-morto está agora hospitalizado. Suspeita-se que ele tenha se envolvido numa briga, ferindo- se e sendo enterrado pelos seus adversários.
Eis aí um caso real de enterro prematuro no qual a vítima logrou escapar da morte. Seria interessante ouvir esse homem e saber sobre a situação de terror experimentada por ele.
Enquanto não se têm novas notícias sobre o episódio resta-nos reler o conto de Poe para mais uma vez sermos envolvidos pela atmosfera terrível que ele era capaz de gerar nos momentos em que fazia uso da sua pena.
O caso do urubu
Os urubus não contam com a simpatia popular. A imagem que temos deles associa-se a mau agouro. Seres expectantes, os urubus empoleiram-se em galhos de árvores e ali ficam com ares soturnos e de poucos amigos. Aparentam grande paciência revelada pelas longas horas de espera da morte de outros seres cuja carne serve a eles como alimento.
Se o assunto é urubu não há como evitar a palavra carniça. De fato, vivem esses seres do consumo de animais mortos, nesse hábito a sua importância ecológica: alimentando-se de carnes em putrefação retiram do ambiente matérias orgânicas em decomposição. Essencialmente carnívoros, raramente consomem presas vivas agonizantes, exceto quando com grande fome. De qualquer modo, valem-se de seus poderosos bicos para abrir o corpo de suas vítimas. É quando os vemos à margem de estradas ou em campos abertos em torno de seres mortos a executar o terrível ofício que lhes coube na cadeia alimentar.
A ligação de urubus com a morte garante a eles posição bastante precisa no universo da literatura de horror. É famoso e monumental o poema “O Corvo”, de Edgar Allan Poe, que mereceu traduções de Machado de Assis e Fernando Pessoa. Inesquecível, na sombria atmosfera do poema, a figura do corvo a sempre dizer: “nunca mais”.
Mas, por que falarmos sobre urubus? Como se sabe, esses animais possuem plumagem negra. Talvez por capricho quis a natureza distinguir uma variante de urubus com plumagem totalmente branca. Pois, um urubu albino foi, dias trás, encontrado por agricultores. Estava a ave debilitada e foi tratada bem pelas pessoas que a encontraram. Aliás, carinhosamente os agricultores deram a ela o nome de Michael.
Michael foi levado para o Parque dos Falcões, localizado na Serra de Itabaiana, a 45 km de Aracaju. Ali ficou por alguns dias, recuperando-se, até ser roubado no último domingo, provavelmente por criadores ilegais de aves de rapina ligados ao tráfico de animais silvestres. Michel está desaparecido, portanto. A Polícia Florestal foi avisada e está no encalço dos ladrões.
Não se sabe se Michael, o urubu, será encontrado. Trata-se de animal raro, pertencente à única espécie de urubus albinos do Brasil, daí o seu valor para os traficantes. De qualquer modo, como acontece em tantas situações, Michael está pagando o preço de ser diferente.
O fato é que a humanidade nem sempre se dá bem com as diferenças.