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Avanço das águas

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Mares são lindos, mas perigosos. Não há fim de semana em que não recebamos notícias sobre afogamentos. A história se repete. Há sempre alguém que não sabe nadar surpreendido por uma onda que o arrasta para longe. Turistas de um dia descem a serra para gozar as delícias da praia. Muitos não voltam para casa.

Dias atrás um caso comoveu a opinião. Recém-casados de véspera, o rapaz e a moça foram tragados pelas águas marinhas. Afogaram-se os dois em seu primeiro dia de lua-de-mel. O desespero das famílias inconformadas foi o corolário da tragédia anunciada. Se o mar já é perigoso para nadadores hábeis que dizer daqueles que se arriscam sem saber nadar?

O mar tem fome de terra. É preciso conter suas incursões, preservar a terra. Mas que fazer quando a elevação do nível dos mares acontece, quando as razões desse fato são desprezadas? O efeito estufa?

Viver à beira-mar tem seus encantos. Há quem aceite a presença do grande vizinho sem nada interpor. Quanto a mim sempre me acossa a possibilidade de, certo dia, erguerem-se ondas gigantescas que invadam a cidade. Um tsunami. Como fugir dele quando estamos a poucos metros da praia?

Mas, nãos se trata disso. Noticia-se que até 2100 o mar invadirá regiões costeiras em todo o mundo. Estima-se que 300 milhões de pessoas serão atingidas em todo o mundo. Nossa região, a da Baixada Santista, não ficará de fora do evento. O mapa no qual se inserem dados com invasões previstas mostra grande alterações na área de Cubatão. O mar vai engolir muita terra por aqui.

Grande parte das catástrofes é previsível e contra muitas delas pouco há a se fazer. Os furacões que assolam o Caribe, fazendo vítimas e destruindo cidades, não podem ser contidos. O mesmo não se pode dizer em relação ao aumento do nível dos mares. Políticas que favoreçam a redução do efeito estufa concorrerão para evitar tragédias anunciadas.

Saudações ao planeta

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A Rio+20 está acabando e o que se diz é que tudo vai continuar na mesma. Ativistas protestam, governos passam a bola para o futuro e ninguém diz como se alimentarão 9 bilhões de pessoas em 2050. O documento final a ser aprovado desencanta pela timidez de propostas e acordos, mas há sempre quem se ufane do “jeitinho brasileiro” com o qual se logrou que pelo menos existisse um documento. O secretário geral da ONU que inicialmente criticou o documento agora passou a elogiá-lo e há quem veja nisso uma adesão dele ao tal “jeitinho” tão comum em nossas plagas.

Mas, o que realmente chama a atenção é a divergência de opiniões sobre a questão do aquecimento da Terra. Nos últimos anos temos sido bombardeados por avisos de que é preciso frear a emissão de gases estufa dado que eles formam um cinturão em torno da Terra, impedindo a difusão de ondas de calor daí derivando o aquecimento global. Imagens de geleiras se desfazendo são constantemente exibidas e os agravos climáticos que têm-se tornado frequentes no mundo são apontados como consequência do descaso em relação ao ambiente. Filmes mostrando a destruição de cidades pela invasão de gigantescas ondas de água causam-nos calafrios assim como notícias de que o nível dos mares está subindo e cidades situadas em regiões costeiras desaparecerão. Contra tudo isso se exige ação imediata dos governos e participação coletiva das populações, afinal cabe a cada ser humano dar a sua parcela de contribuição para salvar o mundo e deixá-lo inteiro e em ordem para as gerações que hão de vir. Aliás, o desenvolvimento sustentável é exigência cada vez mais urgente, para isso chamando-se à responsabilidade aqueles que têm em mãos poder para tomar decisões nesse sentido.

Entretanto, causa espécie o número de cientistas que vêm a público para externar a absoluta discordância em relação à verdadeira febre de condenação do mundo sob os efeitos do aquecimento global. Para eles os fenômenos atmosféricos ora observados fazem parte de um ciclo da Terra nada tendo a ver com a emissão dos gases estufa. Afirmam que a Terra passa por períodos regulares de esfriamento e aquecimento e isso faz parte da rotina do planeta sendo-nos impossível interferir nesse processo. Obviamente, esses cientistas não descartam a importância do desenvolvimento sustentável, estão atentos à necessidade de reduzir a poluição em todos os ambientes, enfim valorizam a ecologia como um todo apenas discordando em relação ao aquecimento global.

Para alcançar resultados satisfatórios Rio+20 que agora termina teria que superar diferenças muitas vezes irreconciliáveis de interesses, a começar pelas concessões necessárias dos países ricos em relação aos emergentes e pobres. Consertar o mundo custa muito dinheiro e justamente o dinheiro é o que está faltando, por exemplo, para a solução da atual crise europeia que já contamina todo o planeta. Entretanto, isso não significa que todos os esforços não tenham que ser empregados para a obtenção de um acordo comum em prol da saúde do planeta em que vivemos.

É hora de se perder pelo mesmo um pouco no sentido de preservar o planeta. E isso só acontecerá se a Terra for entendida como moradia na qual a geração atual é apenas transitória. Apesar da visão de eternidade que permeia os nossos dias não passamos de inquilinos no planeta, cabendo-nos a obrigação de cuidar bem dele para que continue habitável no futuro.

Daqui a 150 anos

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Aconteceu de um rapaz me perguntar se é verdade que, em 150 anos, o mar avançará tanto que uma cidade litorânea, como Santos, terá deixado de existir. Estávamos no último andar do prédio onde moro e olhávamos para o mar num dia inesperadamente belo. Ao ser perguntado não resisti e disse ao rapaz:

- Dizem que sim, mas não pretendo esperar.

Depois desse curto diálogo a primeira coisa em que pensei foi no desaparecimento de civilizações. Os canais pagos frequentemente repetem um documentário sobre Machu Picchu, a cidade perdida dos incas. Não deixa de ser interessante ver imagens de um local situado a 2400 m de altitude que conserva vestígios de um povo que ali viveu. Templos, casas e cemitérios datados da era pré-colombiana permanecem como testemunhos da extinta civilização inca.  É a ideia do que foi e deixou de ser, de desaparecimento total que instiga a curiosidade, sugerindo que também a civilização humana um dia terá fim, nada restando do mundo que construímos e no qual vivemos. A finitude é arrasadora, corrói a noção de eternidade e afeta diretamente o sentido que damos à vida. Afinal, se tudo pode acabar de repente, se aquilo em que acreditamos não nos pode valer numa hora extrema, que sentido podemos dar a tudo isso?

Quem gosta desse assunto é Hollywood. Filmes e filmes são produzidos tendo por tema o fim do mundo. O apocalipse nos espera, mas pode vir de várias formas: movimento de placas tectônicas resultando numa formidável reação dos mares cujas águas cobrem tudo, colisão de corpos celestes com a Terra, vinda de alienígenas mais avançados tecnologicamente para dominar e destruir o planeta etc. Em situações como essas vemos nas telas humanos fragilizados, correndo desesperadamente para fugir a algo impossível de evitar porque maior e definitivo, impondo-se o fim à civilização humana. Imagens de cidades inteiras engolidas pelas águas são terrificantes. Nova York, símbolo da pujança norte-americana, é a preferida dos cineastas. De fato, são inúmeras as vezes em que a Estátua da Liberdade é derrubada pelas águas oceânicas, dando início a um processo de destruição e desparecimento total dessa grande metrópole.

Mas, à pergunta do rapaz. De que as consequências do efeito estufa são notáveis, entre elas o degelo das calotas polares com subida do nível dos mares, todo mudo sabe. Existe, sim, um grupo de cientistas que discorda disso, mas o consenso é o de que as nações devem cuidar com urgência da poluição e emissões de gases para evitar as consequências do efeito estufa. Demais, nos últimos tempos os fenômenos atmosféricos tem-se tornado mais frequentes e agressivos. Temperaturas elevadas, grandes secas, chuvas excessivas, furacões, tornados, tsunamis e terremotos têm acontecido com frequência assustadora. Neste momento mesmo está em andamento o furacão “Katia” que ameaça as Bermudas e a costa leste dos EUA. No Brasil a secura do ar é recorde em algumas capitais. Entretanto, daí à subida do nível dos mares a ponto de encobrir cidades há uma distância muito grande, pelo menos por agora.

O rapaz que me fez a pergunta é um jovem cuja formação não passa de básica. A ele escapam as explicações e teorias acerca do ambiente. O que o assusta é a noção de que tudo acabará um dia, o fim do mundo. Pedreiro de ofício o rapaz vive a construir e sabe quanto esforço é necessário para erguer uma simples parede. Talvez por isso a ideia de uma destruição total, em poucos minutos, de algo grandioso e construído ao logo de tanto tempo o revolte. Foi o que me disse depois. Para ele nada disso chegará a acontecer porque sempre existe um jeito de impedir, quem sabe a ação divina a proteger os homens.

O mar invadirá a praia

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Três mulheres conversam junto à barraca que vende água de coco, na feira. A mais velha fala sobre o fim da cidade de Santos que será coberta pelas águas:

- A água do mar vai cobrir quase tudo. Dizem que só dois bairros, mais para o fundo, escaparão da inundação.

- Mas e os prédios da avenida da praia? – pergunta uma das mulheres, baixinha.

- Não sei. Talvez não cheguem a ser encobertos. Mas vão ter água pelo menos até o meio deles.

A terceira mulher, até então calada, pergunta:

- Por que isso vai acontecer?

É a vez da mais velha:

- Dizem que há muito gelo se derretendo no mar. Também, com esse calor… O mundo está esquentando.

É a vez do vendedor de coco entrar na conversa:

- Dizem que isso tudo aqui era mangue. Fizeram a cidade em cima do mangue. Quer dizer, isso tudo pertence ao mar que vai cobrar o que é dele.

Seguem-se instantes de silêncio durante o qual as mulheres tomam a água de coco servida pelo homem da barraca. Depois, a baixinha pergunta:

- Mas, se o mar vai subir e inundar tudo, onde vamos morar?

A mais velha responde:

- Não sei. Espero que eu não tenha que brigar com a turma das cotas, essa gente que vive no meio da serra, por um lugar.

As mulheres pagam ao homem e partem para as suas casas, mais que nunca ameaçadas de desaparecer junto com a cidade. O vendedor de coco me olha desconsolado e diz:

- O fim está próximo.

Não sabendo o que dizer sou obrigado a concordar com ele:

- É… o fim está próximo.

Escrito por Ayrton Marcondes

28 janeiro, 2010 às 8:11 am

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Copenhague 2009

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Há dois dias do encerramento a conferência sobre o clima em Copenhague pouco se conseguiu. A agenda que previa, entre outros compromissos, a redução de gases estufa e a criação de um fundo internacional voltado para o ambiente ainda não foi cumprida e não há porque se acreditar que os acordos tão esperados sejam selados desta vez.

Para quem acompanha de longe é interessante observar a tônica dos pronunciamentos. A verdade é que a partir de temas ambientais geraram-se muitos lugares-comuns, todos eles em torno de uma coisa só: alguma coisa precisa ser feita.

Mas como, sem ofender em grande escala os interesses díspares das nações? O fato é que os poucos progressos verificados na conferência têm gerado enormes protestos. Os homens públicos estão sendo cobrados pelo clamor que vem das ruas e estão sendo pressionados a agir. Trata-se de um jogo em que ninguém quer perder, ou perder proporcionalmente em relação aos demais países.

De positivo o fato de que as questões ambientais deixaram de ser assunto de cúpulas e estudiosos. A linguagem ecológica incorporou-se definitivamente ao vocabulário e temário da população. O ambiente e a necessidade de preservá-lo não passa despercebido ao povo em geral, embora no particular não se acredite que cada um esteja fazendo a sua parte. Afinal, o exemplo vem de cima: se os governos não se comprometem e não se empenham que posso fazer eu?

Ontem peguei um táxi e o motorista puxou conversa. Assunto: ambiente. Falou-me ele sobre aas alterações climáticas, o efeito estufa, o degelo das calotas polares e o monumental iceberg que se despregou do pólo antártico e navega em direção à Austrália (ele disse Inglaterra). A sorte, disse o taxista, é que o iceberg vai se quebrar antes de chegar à orla marítima.

Era um homem simples o taxista, mas antenado com a situação do mundo em que vive. No conjunto sua visão mostrou-se trágica: para ele nunca haverá um acordo e o mundo acabará em colapso com o fim da vida no planeta.

- Não veremos o desastre - disse ele – talvez os nossos bisnetos assistam ao fim da nossa civilização.

Depois o taxista lembrou-me de que talvez as coisas possam ser resolvidas à nossa revelia, no ano de 2012, quando os planetas ficarão numa posição exata, capaz de gerar cataclismos.

Desci do táxi impressionado com a verve de um homem bastante informado sobre as questões ambientais. Quero dizer que é de pequenos acontecimentos como esse que nasce a esperança. Vozes que se somam geram ruídos ensurdecedores daí ser bem capaz de que os governantes finalmente ouçam e cumpram o papel que deles se espera.

A ministra chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, declarou em Copenhague que a preservação do ambiente é uma ameaça ao desenvolvimento sustentável. Ato falho ou não da ministra é preciso corrigir a frase para que as coisas sejam colocadas em seus devidos lugares.

Aquecimento Global

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Há quem não acredite no aquecimento global ou quem não esteja nem um pouco preocupado com ele. Para muita gente essa história de emissão de gases-estufa não passa de argumento para discussões intermináveis que se traduzem em pressões entre governos. Ao entrar na pauta de negociações o aquecimento global serviria a interesses vários, nem sempre direcionados ao bem estar comum. E assim por diante.

De uma coisa podemos estar certos: pouca gente se dispõe a abrir mão de seu modo de vida em prol da saúde do planeta. Nos países ricos prevalece a idéia de que os mais pobres é que devem ser mais contidos. O “The american way of life” é uma prova substancial dessa afirmação.

O recente encontro entre os presidentes Obama e Hu Jintao foi uma decepção em termos de acordos climáticos. É preciso lembrar que, juntos, EUA e China são responsáveis pela emissão de 40% dos gases responsáveis pelo efeito estufa. O presidente chinês fechou a conversa com a seguinte frase: “Cada país fará a sua parte de acordo com a sua capacidade”. De concreto, nada. Para Obama o mundo deve ser convocado para buscar a solução para o problema climático.

A oportunidade está próxima: dentro de poucos dias terá início a Convenção de Mudanças Climáticas da ONU, a ser realizada em Copenhague. Se atentarmos para a evolução anterior das discussões sobre o assunto infelizmente não teremos motivo para achar que do encontro sairá um tratado capaz de reduzir a emissão de gases-estufa.

Enquanto isso, o clima vai sendo alterado e a olhos vistos. Não me lembro de períodos tão longos de transformações climáticas abruptas e com conseqüências danosas para a população. O sul do Brasil tem sido alvo de grandes tormentas que ultrapassam as médias anuais desse tipo de acontecimento. Grandes ventos, tornados, vendavais, chuvas e enchentes têm se tornado rotina na vida de milhares de pessoas.

É indispensável que pelo menos um grande passo seja dado na reunião de Copenhague. Trata-se da necessidade de minimizar um risco que cresce a cada dia. Segundo um relatório das Nações Unidas, de 2006, a população humana atual de 6,2 bilhões de habitantes deverá a chegar 9,2 bilhões em 2050. Serão mais 2,5 bilhões de pessoas alimentando-se, poluindo, grande parte delas dirigindo carros.

Está mais que na hora dos governos buscarem soluções alternativas para o problema da energia. Todo mundo repete isso e não se pode negar que se dissemina cada vez mais a consciência coletiva sobre essa necessidade. Mas de nada adianta ficar nas palavras como, aliás, acontece com esse texto.

É preciso agir: acordos entre governos, ações efetivas e a participação das populações de cada país. Sem romantismo. Sem essa de que o nosso pobre planeta está ameaçado e precisamos fazer alguma coisa. É para fazer e pronto. As gerações futuras agradecem.