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Engarrafamento
Não há coisa mais horrível, principalmente quando se está com pressa. O diabo é que quase sempre estamos atrasados. De manhã, por exemplo. A rotina diária, após acordar, pode ser demorada. Isso não se considerando o tempo que se permanece na cama, tempo esse que contribuirá para o atraso. E o café da manhã, tomado no sufoco, a última mordida no pão tantas vezes já na porta do elevador. Aliás, o elevador… E as manobras para sair da garagem. Depois dessa odisseia, bem, o trânsito.
Nas capitais a coisa é pior. São Paulo e Rio têm trânsito de amargar. Recife, Salvador, Porto Alegre, Brasília. Quase dá saudades do tempo em que não havia tanta gente, tantos carros, tantos prédios, tanto crescimento. Já não se vive como antes. Hoje dispõe de tudo e mais um pouco, mas a que preço? Com tantos perigos, a violência crescente…
Quase mudando de assunto, mas nem tanto, não sei qual seria a sua opinião sobre alpinismo. Para começar, tenho medo de altura. Filmes nos quais os atores são mostrados no papel de escalar picos íngremes me incomodam. Recentemente, recebeu o Oscar de melhor documentário o filme “Free Solo” que mostra a façanha do norte-americano Alex Honnold, que escalou um paredão de mais de 900 metros de altura. Detalhe: sem a ajuda de nenhum equipamento de segurança e em tempo recorde. Só ele e o paredão. Caramba!
Mas ao alpinismo. Alpinistas preparam-se durante longos períodos para chegar ao topo dos picos mais altos da Terra. Naturalmente, o Everest, com seus quase 9 mil metros de altura e suas neves eternas, constitui-se num sonho para os melhores alpinistas. Mas, ao que parece, cada vez mais esse sonho se dissemina em muitos desses escaladores de montanhas. Eis que quando se aproximam do cume do Everest, após longa, perigosa e difícil escalada, sujeitos a ação do frio e rarefação de oxigênio, extenuados, são submetidos a um grande… congestionamento. Pois no trajeto final forma-se uma fila na qual os sequiosos por atingir o cume, bem perto dele, podem esperar por até 12 horas para atingi-lo. Nem todos conseguem. Há quem sucumba ao frio e às más condições climáticas e desgaste do organismo abalado pelo duro confronto travado na escalada. Isso sem levar em conta as mortes de alguns que não alcançam o cume, vitimados por toda sorte de problemas, como falência do organismo, deslizamentos de neves, quedas em precipícios e assim por diante.
Os filmes produzidos pela indústria cinematográfica obedecem a roteiros que podem ser enquadrados em algumas categorias: dramas, comédias, terror, faroeste etc. Os filmes que se passam em paisagens nas quais as nevascas subjugam o homem trazem-nos o horror da submissão incondicional a um meio sobre o qual deixa de existir qualquer controle. Acidentes aéreos nos quais passageiros sobrevivem em lugares montanhosos, distantes, gelados e sob nevascas mostram-nos a face do desespero pela sobrevivência, em alguns casos até com a antropofagia.
Em se considerando tudo isso até que os congestionamentos nas artérias das cidades por onde trafegamos não são tão ruins assim. Há coisas piores. Mas, comparar o muito ruim com o pior que ele talvez não nos sirva de consolação. Nesse caso o que se espera é que as políticas de trânsito sejam cada vez mais aperfeiçoadas para que tenhamos dias melhores. Quanto ao alpinismo e alpinistas…