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Parar de trabalhar?

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Se bem me recordo foi na década de 1970 que um amigo me disse: o trabalho fez o homem. Não sei se a sentença era de autoria dele ou se fora retirada de algum livro. O fato é que nunca me esqueci dela.

A referência ao trabalho vem bem a calhar neste início de ano. Acontece à maioria das pessoas o sufoco do fechamento de fim de ano, a correria, o trânsito para sair da capital etc. Depois disso segue-se a súbita calmaria, período ao qual é preciso se adaptar porque sempre fica aquela sensação de situação não terminada, de algo esquecido e por aí vão os cérebros que custam tanto a se desligar, a compreender o significado da pausa, enfim, a própria pausa.

Na verdade sente-se um vazio consequente ao vício que nos condiciona a estarmos ocupados, a sensação de obrigação de quem tem coisas a fazer.

É nessas ocasiões que, mais hora, menos hora, topamos com a interrogação: e se não tivéssemos mais que trabalhar, se nos aposentássemos como seria a vida a partir daí?

Não são perguntas simples para responder. Todo mundo conhece as implicações do envelhecimento ligadas à redução de atividades. De tal modo somos impregnados pela noção de que é preciso ser útil e realizar coisas que o inverso disso torna-se complicado. Quantas pessoas simplesmente se apagam quando pela idade ou outra razão desligam-se do mundo do trabalho. Estão aí, também, os grupos de pessoas idosas que se reúnem ou participam de eventos para manterem-se ativos, porque não dizer, vivas.

Escrevo sobre isso num momento em que a todo transe adoraria deixar de lado as minhas funções e vagabundear por aí. Mas, será que depois de tantos anos de trabalho conseguirei viver sem ele? Note-se que em nenhum momento se está aqui a raciocinar sobre questões econômicas ligadas à redução de rendimentos etc. É preciso lembrar que estamos no Brasil onde o sistema previdenciário deixa muitíssimo a desejar. Mas, ainda que a questão financeira não venha a se mostrar importante, como se dá a adaptação ao novo ritmo de vida?

Preocupação de velhos, dirão. É, mas todo mundo chega lá. Daí que a breve parada de fim de ano, o afastamento temporário do trabalho, transforma-se em momento de muita reflexão. Não terá sido assim nos fins de anos anteriores, mas o tempo passa, a vida passa e certo dia se descobre que se aproxima a hora de deixar o lugar no mundo do trabalho para espíritos mais jovens e aguerridos.

Mas, é preciso cuidado, muito cuidado.