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O Velho e o Mar

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Um tubarão de mais de cinco metros apareceu nos mares da Austrália. O tubarão gigante atacou e matou outro de tamanho menor. O fato ocorreu na costa de Brisbane, capital do Estado australiano de Queensland.

As notícias sobre tubarões tão grandes atacando pessoas não são muito frequentes. Os tubarões são peixes cartilaginosos pertencentes à subclasse dos elasmobrânquios representada por 815 espécies. É relativamente fácil diferenciar, pelo aspecto externo, peixes cartilaginosos de peixes ósseos: nos cartilaginosos a boca situa-se ventralmente, a pele é coberta por escamas duras chamadas placóides, lateralmente ao corpo existem aberturas denominadas fendas branquiais e as nadadeiras dispõem-se nas posições que observamos em fotos de tubarões, destacando-se a nadadeira caudal.

Nas águas costeiras vivem espécies como a tintureira e os tubarões-martelo; em águas profundas encontram-se tubarões grandes como o anequim e o grande tubarão branco.

As notícias sobre ataques de tubarões a seres humanos, curiosamente quase sempre vêm da Austrália. Há em certas regiões daquele país grande preocupação com a saúde dos banhistas principalmente em épocas em que as águas marítimas são frequentadas por cardumes de pequenos peixes que servem de alimento aos tubarões. Por isso, as praias mais populares são protegidas por redes e bóias com anzóis e iscas para evitar os ataques dos predadores. São comuns por lá os tubarões tigre, branco e o tubarão-de-cabeça-chata (também conhecido como touro).

Existem tubarões tímidos, mas muitos deles são muito perigosos. O grande tubarão branco pode atingir 6 m e é muito feroz. Justamente a maior parte dos acidentes com tubarões acontece nas águas tropicais e temperadas da região australiana. Durante a Segunda Guerra Mundial foram registrados vários ataques de tubarões a vítimas de naufrágios.

oldmanseaFalar sobre tubarões leva-nos ao grande livro que é “O velho e o mar”, de Ernest Hemingway. Trata-se de um romance essencialmente de ação em que o confronto entre o homem e a natureza se dá através da luta entre o velho pescador cubano Santiago e os tubarões. Santiago passa por uma maré de azar – há 84 dias não pega nada - e sonha pescar um grande peixe para provar a outros pescadores que não está acabado. Solitário e determinado Santiago acaba conseguindo, mas os tubarões atacam e progressivamente retiram pedaços do peixe. Ao retornar à praia resta apenas a carcaça que, entretanto, serve como prova diante de outros pescadores que o taxavam o velho e azarado.

“O Velho e o mar” (The old man and the sea – título em inglês) é leitura indispensável e altamente recomendada. O livro pode ser encontrado nas livrarias, publicação da Editora Bertrand do Brasil com tradução de Fernando de Castro Ferro.

A trama de “O Velho e o mar” também serviu à realização de um filme com o mesmo nome. A produção é de 1958 e dirigida John Sturges. No papel do pescador Santiago está o grande ator Spencer Tracy, indicado para receber o Oscar de melhor ator pela sua atuação. O filme recebeu um Oscar de melhor trilha sonora. Impressionam as imagens de Santiago enfrentando o mar com um pequeno barco, sua solidão e respeito pela natureza, sua luta em busca do sonho de pescar um peixe grande, o ataque de tubarões e a forma como enfrenta as adversidades.

A versão cinematográfica de “O velho e o mar” está disponível em DVD.

O Demônio da Criação

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Ray Bradbury atribui suas criações literárias à existência de uma musa à qual ele batizou como “Demônio que não teme a felicidade”. Esse nome foi retirado de um poema de Frederick Seidel no qual o poeta conta como o pequeno Demônio ora se senta sobre um ombro, ora sobre o outro, e sussurra coisas que só o escritor ouve.

A confissão de Bradbury sobre a fonte de suas inspirações está no primeiro ensaio de um livro recentemente publicado em língua espanhola pela Suma de Letras e denominado “Bradbury Habla” (do original norte-americano “Bradbury Speaks”).

Muita gente pergunta por que existem pessoas que escrevem livros ou simplesmente porque são capazes de fazer isso. Há quem tome nas mãos grossos volumes e fique imaginando quanto tempo terá levado o autor delas para escrevê-las. Alunos mais preguiçosos e pouco dados a leituras calculam o seu esforço para ler obras obrigatórias pela grossura da encadernação. Ernest Hemingway criticava Balzac por escrever tanto, atribuindo a imensa obra do escritor francês à falta de mais o que fazer.

O fato é que por detrás de poucas ou muitas páginas existe sempre alguém que se debruçou sobre elas, talvez acreditando que sua missão nesse mundo fosse a de compartilhar as suas idéias com a humanidade ou, simplesmente, contar histórias para ouvintes/leitores ávidos por preencher o seu tempo.

Se Bradbury estiver certo sobre a existência de demônios que sopram idéias nos ouvidos dos escritores é de se prever que cada um tenha o seu demônio particular. Mais que isso, talvez exista uma hierarquia de demônios porque os de James Joyce e Fernando Pessoa seguramente sugerem mais idéias que os pequenos demônios que inspiram o comum dos mortais.

Mas Bradbury avança nas suas explicações sobre a origem das suas criações dizendo que em geral as idéias trazidas pelo seu Demônio resultam em textos mais ou mesmo breves que mais tarde se ampliam, chegando a se tornar romances. O mesmo acontece com situações vividas que aparentemente não significam nada, mas que, tempos depois, tornam-se úteis como narrativas de contos ou romances.

Há quem escreva por simples compulsão, outros para livrar-se de um peso que carregam às costas. Também há quem se embebede com belezas e escreva como a passear no paraíso. O importante é que não existe uma regra para a criação em si. O que há, talvez, é um dom ou, se quiserem, uma queda de pessoas imaginosas para escrever. O resto provém da experiência pessoal, da meditação e da acomodação da escrita às regras de sintaxe, enfim de um profundo mergulho nas formas de expressão.

Entre a idéia e a consumação da obra existe um abismo, por vezes incontornável. Em Jean Christophe, grande obra do escritor francês Romain Rolland, existe uma personagem por cuja cabeça passam as mais incríveis composições e árias; entretanto, esse gênio musical é incapaz de transpor uma só linha para o papel o que seria a sua consagração como compositor. O mesmo tema foi abordado, antes de Rolland, por Machado de Assis em contos como a “Cantiga de Esponsais” na qual a personagem é um músico, Mestre Romão, que se pudesse seria um grande compositor. Sobre a inaptidão de Romão para criar, diz Machado de Assis:

- Parece que há duas sortes de vocação: as que têm língua e as que a não têm. As primeiras realizam-se; as últimas representam uma luta constante e estéril entre o impulso interior e a ausência de um modo de comunicação com os homens. Romão era destas.

Assim sentenciou Machado de Assis. Quanto a você leitor, vá depressa a um espelho e mire bem os seus ombros a ver se há algum demônio sentado sobre eles; se o vir, tome tento se ele lhe sopra coisas ao ouvido; caso isso aconteça, verifique se a sua vocação tem língua ou não. Se tiver, sente-se depressa diante de um computador e comece a escrever.