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Bloqueio
Não sei se a palavra certa é “bloqueio”. Ideias não faltam mas, convertê-las em texto exige grande esforço. Afinal, escrever para quê?
Suponho que algumas pessoas tragam do berço a capacidade de contar histórias. Algumas delas se tornam escritores medíocres, outras, raras, grandes escritores. No caso de escritores profissionais existem os que se mantêm em atividade até a velhice. Outros param a meio caminho. Há gente como Salinger que se notabilizou por trazer à luz apenas um livro. E por aí vai.
Talvez no cerne daquilo que seria bloqueio exista mesmo nada mais que indiferença. Sim, indiferença em relação a um mundo sobre o qual cada vez mais seja impossível interferir. Os discursos parecem esgotados. Os homens já não reagem aos costumeiros estímulos. Algo de novo paira sobre as cabeças que se mostram incapazes de decodificar o atoleiro de mensagens que circulam à nossa volta.
Um amigo me disse: se você já não tem nada a dizer à pessoa a seu lado, então nada há a ser feito. Que mensagem pode ter um texto bem elaborado, mas cujo conteúdo quase nada tem a revelar? Ou, de outra forma: para que repisar - e mal - temas desgastados, procurando inovar em solos que deixaram de ser férteis?
Entretanto, não há que se esquecer de que somos seres humanos, portanto imprevisíveis. Aliás, seres nos quais nem sempre o bom senso prevalece. Seres tantas vezes dados à irracionalidade. À revolta. À destruição de paradigmas. Seres essencialmente criativos aos quais não falta essa coisa à qual damos o nome de esperança. Desgastada que esteja, sufocada, a esperança sobrevive. Vai daí que o tempo passa e, certa manhã, igual a tantas outras, do nada brota uma trama completa e mergulha-se no texto do qual é impossível fugir.
Assim nascem os livros.