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Fatalidades
Elas acontecem. Inesperadamente. O cidadão está dirigindo seu carro numa rua da capital. Chove torrencialmente. Trovões, raios, ventania. Tanto vento que uma enorme árvore cai sobre o carro e mata o motorista. Ele estava dentro do carro, dirigindo, naquela rua, passando sob a árvore no exato instante em que ela caiu. A árvore estava ali, firme, altaneira há décadas. Despencou naquele dia. Ele morreu. Fatalidade.
Estar no lugar errado, na hora errada, parece ser o código de startup das fatalidades. Há sempre o ingrediente do inesperado. Vidas são ceifadas assim, misteriosamente. Fatalidades são mais que acidentes: trata-se de acidentes que parecem programados com algo a mais, como se um diretor montasse cuidadosamente a cena para filmá-la no exato instante da ocorrência.
Fatalidades impressionam, chamam a atenção. Na Baixada Santista existe a ponte do Mar Pequeno que consiste de dois conjuntos de pistas para o vai-e-vem dos carros. Entre os dois conjuntos, protegidos por guard rails há um vão sob o qual está o mar. Ontem duas motocicletas se chocaram na ponte. Um dos motociclistas foi jogado de sua moto e eu corpo lançado justamente no vão entre os conjuntos de pistas. Caindo no mar o motociclista desapareceu e até agora seu corpo não foi localizado. Houve um acidente acompanhado de fatalidade.
De meu tempos de menino me lembro de uma jardineira que circulava pelas estradas de terra entre cidadezinhas do interior. Certo dia estava na jardineira um rapaz, trabalhador da roça, para quem a viagem figurava-se como excursão de reconhecimento de um mundo distante. Tão distraído ia, metendo a cabeça para fora da janela a fim de observar tudo, que não reparou num poste de rua. Assim, a cabeça colidiu com o poste sendo quase toda arrancada do corpo. Aconteceu defronte à minha casa. Alguém começou a gritar: fatalidade.
Cheguei a ver o corpo do rapaz sem cabeça, cena que me aterrorizou durante muito tempo. Fragmentos do cérebro dele espalhavam-se na rua causando péssima impressão.
Havia um poste no caminho da alegria do rapaz.
Ninguém está a salvo de fatalidades.